Otávio Z. Catelano*

O efeito dos algoritmos das redes sociais sobre as fontes de informações das pessoas tem virado tema de debates, livros e documentários. Muitos deles apontam que os algoritmos têm uma parcela de culpa no sucesso de candidatos radicais e na erosão das democracias. O ativista Eli Pariser argumenta que usuários de redes sociais vivem sob o efeito de bolha dos filtros, ou seja, os algoritmos trabalham para “entregar” a cada usuário somente as informações que costumam agradar seus pontos de vista.

Isso pode aumentar radicalismos, uma vez que o indivíduo só tem contato com conteúdos que reforçam suas opiniões. A pesquisa nacional A Cara da Democracia, realizada em junho de 2022, pelo Instituto da Democracia (IDDC-INCT), demonstra isso: a porcentagem de pessoas que dizem sentir ódio pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) ou pelo ex-presidente Lula (PT) varia de acordo com as redes sociais mais utilizadas pelos indivíduos. Em relação ao total, cerca de 21,2% do eleitorado brasileiro disseram sentir ódio por Bolsonaro, enquanto apenas 6,9% afirmaram o mesmo sobre Lula. Entretanto, essas porcentagens mudam quando se observa separadamente os públicos de cada rede social.

Quando perguntados sobre qual a rede social mais utilizada para se informar sobre política, o Facebook é disparadamente a rede mais escolhida pelos brasileiros, sendo mencionada por 32,6% dos entrevistados. Em seguida vem o Instagram, sendo a escolha de 15,7% dos eleitores; o Youtube, por 11,9%; o WhatsApp, por 10%; o Twitter, por 2,8%; e em último lugar, o TikTok, por 1,1%. Outras redes foram citadas por 2% dos respondentes, enquanto 21% disseram não usar redes sociais.

Fonte: Pesquisa A Cara da Democracia (INCT-IDDC), junho de 2022, com 2538 entrevistas. Margem de erro total de 1,9 ponto percentual e índice de confiança de 95%

Fonte: pesquisa nacional A Cara da Democracia (INCT-IDDC), junho de 2022, com 2538 entrevistas. Margem de erro total de 1,9 ponto percentual e índice de confiança de 95%

Embora os eleitores que prefiram se informar pelo TikTok representem um grupo pequeno, entre eles há um número maior de pessoas que sentem ódio por Bolsonaro ou por Lula do que em relação à sociedade. Parte da explicação pode se dever à forte atuação do algoritmo na dinâmica do aplicativo. O Instagram, que procura cada vez mais se aproximar da interface e do funcionamento do TikTok para concorrer com o aplicativo, parece ser um problema para Bolsonaro e um alívio para Lula. Entre as pessoas que priorizam o Instagram para encontrar informações sobre política, há uma proporção maior de pessoas que sentem ódio por Bolsonaro do que no restante da sociedade; por outro lado, para Lula, o número é menor (ainda que dentro da margem de erro).

Essa leitura se inverte quando observamos os eleitores que utilizam preferencialmente o Facebook e o WhatsApp. Entre eles, há uma proporção menor de pessoas que sentem ódio por Bolsonaro, enquanto esse público tende a reunir mais pessoas que odeiam Lula, quando os dados são comparados com o total (também dentro da margem de erro). O Twitter, por outro lado, é uma plataforma que reúne uma proporção menor de pessoas que sentem ódio por Lula ou Bolsonaro.

Desses dados, pode-se realizar pelo menos duas leituras. A primeira – e que mais salta aos olhos – é a força que Lula e Bolsonaro têm em cada plataforma. Ainda que Lula seja odiado por uma porcentagem 3 vezes menor de brasileiros do que Bolsonaro, o atual presidente aparenta possuir mais força nas plataformas que concentram um número maior de usuários (em termos de procura por informação política). Isso pode indicar como o enfrentamento eleitoral entre os dois líderes das pesquisas poderá ocorrer no terreno digital.

Outra leitura é a diferença da atuação dos algoritmos de cada plataforma. O que o TikTok e o Twitter têm de tão diferente? Por que entre os usuários de TikTok há proporções maiores de pessoas que odeiam Bolsonaro e/ou Lula? E por que isso se inverte quando se observa o conjunto de pessoas que prefere se informar politicamente pelo Twitter? Ainda que sejam as duas plataformas menos optadas pelos brasileiros em geral, é importante que essa diferença seja acompanhada de perto, pois ela pode revelar muito sobre a atual situação política do país.

 

*Otávio Z. Catelano é Doutorando em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop-Unicamp).