No entanto, números variam conforme posicionamento político e eleitoral dos eleitores

 

Quem respeita os resultados eleitorais no Brasil? As tentativas de deslegitimar as urnas eletrônicas colocaram essa discussão em alta nos últimos meses. Ainda assim, essa tentativa parece ter falhado: conforme artigo de Valéria Cabrera publicado no Pulso, a confiança na apuração das urnas tem crescido nos últimos anos.

 

Além disso, um alto número de brasileiros tem apreço pelos resultados das apurações. A pesquisa A Cara da Democracia** mostra que 79,5% dos eleitores concordam que “os derrotados devem reconhecer o resultado em qualquer circunstância”. Enquanto isso, apenas 7,8% pensa que “os derrotados devem reconhecer o resultado apenas se a diferença de votos for grande” e um número ainda menor, 4,1% dos entrevistados, acredita que “os derrotados não devem reconhecer o resultado das eleições”.

 

Entretanto, essas taxas variam conforme o ponto de vista sobre os dados. Observando grupos sociais diferentes, por exemplo, é possível notar que eleitores mais escolarizados, de maior renda e mais jovens tendem a concordar mais com a ideia de que os derrotados devem reconhecer resultados em qualquer cenário.

 

Além disso, posicionamentos políticos e eleitorais explicam variações dos dados. Entre os eleitores das principais candidaturas, os bolsonaristas são os que possuem a menor proporção de pessoas que acham que o derrotado deve reconhecer resultados: 75%. Mesmo que seja um número alto, é bem menor que o número entre os lulistas, 82%, e entre os ciristas, 88%.

 

Quando solicitados a se posicionarem numa escala entre “esquerda” e “direita”, outra variação se confirma: os eleitores que se posicionam à esquerda e ao centro possuem taxas semelhantes de eleitores que pensam que os resultados devem ser respeitados: 85% e 84%, respectivamente. Já os eleitores que se posicionam à direita têm uma taxa menor, atingindo 76%.

 

Vale ressaltar que esses são a maioria do eleitorado: 38% do eleitorado se diz de direita, enquanto 30% se diz de centro e apenas 16% afirma ser de esquerda. Unificados em torno do pensamento de que o candidato derrotado deve se reconhecer como tal, os eleitores de centro e de esquerda formam maioria. Em uma eleição com tantos desafios às instituições democráticas brasileiras, essa parcela do eleitorado pode furar bolhas para se unir à maioria do eleitorado de direita, que concorda com o mesmo princípio, e assim convencerem os postulantes à presidência de que os resultados revelados pelas urnas devem ser aceitos e respeitados.

 

*Otávio Z. Catelano é doutorando em Ciência Política pela Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos de Opinião Pública (CESOP-Unicamp) no Observatório das Eleições 2022.

**Feita pelo Instituto da Democracia (IDDC INCT), a pesquisa entrevistou presencialmente 1.535 eleitores em 101 cidades de todas as regiões do país entre os dias 9 e 14 de setembro e foi contratada pelo CNPq e pela Fapemig.