Arleth Santos Borges
Nove candidatos disputam o governo do Maranhão, embora apenas quatro sejam de fato competitivos: Carlos Brandão (PSB), Edvaldo Holanda Jr., Lahesio Bonfim (PSC) e Weverton Rocha (PDT). Há um nítido favoritismo de Brandão, seguido de Weverton, os quais assumem posições bem distintas em relação às candidaturas presidenciais: Brandão apoia Lula; Weverton diz que o seu grupo tem apoiadores de Ciro, Bolsonaro e Lula; Lahesio apoia Bolsonaro.
Carlos Brandão é o atual governador. Ele é médico veterinário e empresário ruralista, é do PSB, já foi deputado federal e vice-governador durante os sete anos do governo Flávio Dino e tem como vice o ex-secretário de educação, Felipe Camarão, do PT. Sua coligação tem 10 partidos, incluindo duas federações: PSB, MDB, PP, PATRIOTA, PODEMOS, Federação PT/PCdoB PV e Federação PSDB CIDADANIA, uma composição de espectro ideológico bem heterogêneo.
Lahesio Bonfim é médico e fazendeiro, prefeito do município de São Pedro dos Crentes e tem como vice o médico e vereador de São Luís, Dr. Gutemberg, do PSC. Sua coligação tem o PSC e PMN. Ele se declara de direita e, durante a pandemia, adotou o negacionismo bolsonarista, posição que ainda defende.
Weverton Rocha é senador e empresário. É do PDT, já foi deputado federal, tem como vice o deputado estadual Hélio Soares, do PL, e uma coligação de seis partidos: PDT, PL, PTB, REPUBLICANOS, PROS e AGIR, de amplo arco ideológico. Sua chapa PDT/PL traz um dilema em relação ao palanque presidencial, pois o PDT, de Weverton, tem o candidato Ciro Gomes, e o partido do vice tem Bolsonaro; não bastasse isso, Weverton assume mais Lula do que Ciro em sua campanha.
Dado o histórico favoritismo de Lula no Maranhão e a polarização do pleito presidencial, a nacionalização da campanha local é fato inarredável, de modo que algumas tentativas de neutralidade em relação aos presidenciáveis e de enclausuramento da disputa no plano local, ensaiadas por Weverton e Laehesio, têm se revelado improdutivas.
Programas e Agenda Ambiental
Os programas de Brandão, Lahesio e Weverton são parecidos em conteúdos e abrangência. Para o Maranhão seguir avançando é o lema do programa de Brandão, com sete eixos de intervenção, um deles sobre meio ambiente. O de Lahesio, Maranhão na rota do desenvolvimento, constata uma “dura realidade do Maranhão” e critica o “equivocado modelo de desenvolvimento econômico experimentado ao longo da história, que legou à população os piores indicadores sociais e econômicos do Brasil”, sendo organizado em 12 seções, uma delas sobre o meio ambiente. O programa de Weverton sintetiza um Projeto de Desenvolvimento do Maranhão, tem como um dos eixos temáticos Maranhão Ambiental e advoga um “pacto pela superação da pobreza” e um “desenvolvimento de concertação” entre Estado, sociedade e setor produtivo.
Há temas e propostas que, resguardadas as diferenças, são comuns aos três candidatos: fontes alternativas de energia – eólica, solar, gás natural e hidrogênio verde; políticas de proteção/recuperação/uso sustentável e revisão do plano estadual de recursos hídricos, incluindo retomada do projeto de águas perenes na Baixada Maranhense e revitalização da bacia hidrográfica do Itapecuru – PROITA; também há propostas em comum sobre resíduos sólidos – erradicação de lixões, coleta seletiva, reciclagem e consórcios municipais para viabilizar aterros sanitários, usinas de compostagem e incineração do lixo perigoso.
Alguns temas tiveram propostas de dois candidatos: acesso ao saneamento básico (Weverton e Lahesio); recuperação de áreas degradas, plantio de mudas nativas e arborização (Brandão e Lahesio); Zoneamento ecológico-econômico e/ou zoneamento agroecológico, monitoramentos e plataforma com informações e bases cartográficas (Brandão e Weverton).
Outras propostas são específicas de cada candidato: Brandão propõe implementar plano de desenvolvimento socioeconômico sustentável de Alcântara e área de influência do Centro Aeroespacial, Projeto Amazônico de Gestão Ambiental e Social Sustentável – PAGES/FIDA, plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono) e programa estadual de crédito de carbono para pequenos e médios produtores; ele também propõe elaboração de plano estadual de desenvolvimento rural sustentável com foco na agricultura familiar, educação ambiental e cidadania sustentável, prevenção e controle do desmatamento e queimadas, criação do Comitê de prevenção e coordenação de combate às enchentes e inundações, a defesa dos recursos naturais – fauna, flora e pesca – e Programa de Bolsa para famílias cadastradas em projetos que aliem produção e preservação ambiental.
Lahesio, por sua vez, propõe orientar agricultores e pecuaristas para a preservação ambiental e o uso correto dos recursos naturais, indústrias a partir das cadeias do agro e babaçu e aceleração dos licenciamentos ambientais, mediante carta compromisso do beneficiário com vistas a “diminuir a tutela do estado, de forma cuidadosa e criteriosa, liberando ao cidadão a responsabilidade pelo cumprimento de determinações legais de cada área, sem precisar de autorizações desnecessárias, vistorias e liberações que só atrasam e impedem o desenvolvimento econômico”.
Weverton propõe capacitar equipe maranhense em gestão territorial estratégica e trazer, do Instituto Emílio Goeldi (Belém-PA) para o Maranhão, o núcleo de inteligência territorial da Amazônia Maranhense. Taamém propõe microzoneamento da carcinicultura marinha para a Baixada, atualização dos planos diretores municipais e leis de zoneamento, uso e ocupação do solo e organização de banco de dados sobre a Amazônia Maranhense.
Todos têm sua agenda mais ampla focada na intensiva exploração dos recursos naturais. Brandão silencia sobre as condições atuais, Lahesio acusa os baixos indicadores sociais e Weverton fala de “desenvolvimento por concertação”, mas nenhum deles questiona as causas ou os fatores de agravamento dos problemas ambientais existentes, não examinam as conexões entre esse quadro e o “desenvolvimento” que, desde os anos 1960, tem sido peça-chave do discurso de todos os governantes do estado. Eles também são indiferentes ao fato de que, após 40 anos de grandes projetos minero-metalúrgicos e uma década de MATOPIBA, mais da metade dos maranhenses vive em pobreza extrema, e se multiplicam problemas como o desmatamento, as investidas contra territórios indígenas e reservas, poluição por minerais pesados; contaminação de solo, água e até de pessoas, por agrotóxicos, a não balneabilidade das praias da capital, entre outros.
As abordagens não partem de um diagnóstico da situação atual e são pouco convincentes os projetos para superar a pobreza e a degradação ambiental com, praticamente, os mesmos empreendimentos e métodos que vêm produzido um Maranhão de riquezas concentradas ao lado de pobreza e de prejuízos socioambientais difusos.
Arleth Santos Borges é doutora em Ciência Política (IUPERJ) e professora associada da Universidade Federal do Maranhão – UFMA.