Oswaldo Amaral
Publicado no Pulso
A eleição de 2018 ficou longe de ser um evento comum. O país vinha de um processo de impeachment e o presidente Michel Temer (MDB) tinha uma popularidade muito baixa. Lula (PT), que liderava as pesquisas de intenção de voto, foi preso e impedido de concorrer, sendo substituído por Fernando Haddad (PT) pouco antes do primeiro turno. Jair Bolsonaro (PL) sofreu um atentado em Juiz de Fora (MG) e passou as últimas semanas antes do primeiro turno se recuperando e não participou de embates públicos com os outros candidatos. Tudo isso em meio a uma forte crise econômica, escândalos de corrupção e os efeitos políticos e policiais da Operação Lava-Jato, como a divulgação da delação de Antonio Palocci a seis dias do primeiro turno, pelo ex-juiz e ex-ministro de Bolsonaro Sergio Moro.
Como muitos analistas vêm apontando, em 2022 o cenário é outro. O atual presidente é candidato à reeleição e seu principal adversário é novamente Lula, agora com as condenações anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e com os direitos políticos reconquistados.
Ambos são conhecidos da totalidade dos eleitores e têm passados que podem servir de baliza para a decisão do voto. Mais do que isso, o atual governo será julgado pelo que entregou nos últimos quatro anos. É exatamente aí que está o problema de Bolsonaro e de sua campanha para ficar mais uma temporada no Palácio do Planalto.
Em que pese a melhora da economia nos últimos meses, o saldo para o governo é ruim. Inflação nas alturas e aumento da fome e da miséria no país estão presentes no dia a dia da população. Para além disso, há um deserto de realizações entre as políticas públicas que têm algum peso na decisão do eleitor, como saúde e educação.
É isso que explica a dificuldade do presidente em subir nas pesquisas de forma acelerada e a queda generalizada nas intenções de voto quando comparamos os dados de 2018 com os recentemente divulgados pelo Ipec nesta segunda-feira (dia 15) e Datafolha nesta quinta.
Os dados do Ipec e os obtidos pelo Estudo Eleitoral Brasileiro (Eseb) de 2018, pesquisa nacional realizada logo após o pleito pelo Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da Unicamp, mostram o tamanho do desgaste do atual presidente no eleitorado.
Em nenhum dos estratos observados Jair Bolsonaro supera as porcentagens de votos que obteve no primeiro turno quatro anos atrás. Entre os que cursaram o ensino fundamental, a queda é de 13 pontos percentuais, entre os homens, de 12, e entre negros e brancos, de 11. Regionalmente, em comparação com o resultado final das eleições, as perdas são de 15 pontos percentuais no Sudeste e de 14, no Sul.
De maneira inversa, Lula ganha votos em todos os estratos em comparação com o que obteve Haddad em 2018, em porcentagens maiores do que as perdas do atual presidente, refletindo a menor fragmentação na disputa eleitoral deste ano (veja todos os dados nos gráficos abaixo).
2 de 3 Votos em Bolsonaro declarados em 2018 e as intenções expostas na pesquisa Ipec — Foto: TSE, Estudo Eleitoral Brasileiro 2018 (Cesop/Unicamp) e pesquisa Ipec de 15 de agosto de 2022
3 de 3 Votos declarados em Haddad em 2018 e intenção de votos em Lula no Ipec desta semana — Foto: TSE, Estudo Eleitoral Brasileiro 2018 (Cesop/Unicamp) e pesquisa Ipec de 15 de agosto de 2022
Há espaço para as intenções de voto no presidente aumentarem? Sim, há. Bolsonaro está abaixo do que obteve entre os evangélicos quatro anos atrás, vem ampliando a campanha para esse segmento do eleitorado e ainda temos cerca de 7% de indecisos. No entanto, parece pouco provável que o presidente chegue próximo ao desempenho que obteve no primeiro turno de 2018. Para isso, a percepção de melhora na situação econômica e nas expectativas de um eventual segundo mandato precisam ser muito rápidas. Concentrar a campanha nas pautas de costumes e demonizar o adversário não devem ser estratégias suficientes.