Luciana Santana e Marta Mendes da Rocha
Publicado no JOTA
Nas eleições para os governos estaduais, 15 dos 27 estados definiram a eleição no primeiro turno. Em outros 12 estados a decisão será conhecida neste domingo (30). É o caso de Alagoas, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe. Neste artigo, analisamos a possibilidade de vitória dos candidatos(as) a partir das pesquisas mais recentes realizadas pelo Ipec, divulgadas entre 11 e 28 de outubro.
Disputas nacionalizadas no Sudeste
No Sudeste, dois estados decidirão seus governadores neste domingo e em ambos a disputa segue nacionalizada. No Espírito Santo, contrariando as pesquisas que indicavam a reeleição de Renato Casagrande (PSB) no primeiro turno, a decisão foi adiada e o governador enfrenta o ex-deputado federal Carlos Manato (PL).
A última pesquisa Ipec, do dia 21 de outubro, dava uma vantagem de 9 pontos para Casagrande (49 x 40 nas intenções de voto, correspondendo a 55 x 45 dos votos válidos). Apesar da dianteira do aliado de Lula, Bolsonaro está na frente no estado, com 51% das intenções de voto contra 41% do petista. No primeiro turno, o governador ofereceu um apoio apenas discreto a Lula porque sabia que poderia precisar dos votos dos eleitores de Bolsonaro. No segundo turno, contudo, o cenário tendeu a se nacionalizar com a presença de um desafiante claramente alinhado ao presidente.
Em São Paulo, a disputa entre Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) reproduz com força a polarização da eleição presidencial. Haddad terminou o primeiro turno com 35,7% dos votos válidos, atrás de Tarcísio de Freitas com 42,3%, contrariando o que indicavam todas as principais pesquisas. Segundo pesquisa Ipec do dia 25 de outubro, na reta final da campanha, os candidatos aparecem empatados tecnicamente, com 46% de Tarcísio contra 43% de Haddad, equivalente a 52% x 48% em votos válidos. Na pesquisa espontânea, na qual não são lidos os nomes dos candidatos, eles também estão muito próximos, com Tarcísio à frente com 35% contra 32% de Haddad.
O ex-ministro de Bolsonaro busca colar cada vez mais sua imagem à do presidente e conta com apoio do atual governador Rodrigo Garcia (PSDB), que terminou o 1º turno em terceiro lugar. Haddad, por sua vez, tenta explorar a seu favor a ideia de que Tarcísio não conhece São Paulo e o acontecimento recente envolvendo a equipe de campanha de Tarcísio em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo. Há indícios de que a equipe possa ter tentado forjar um atentado em evento que resultou na morte de Felipe Silva e Lima, de 28 anos. Um dos seguranças de Tarcísio teria sido o responsável pela morte. Além disso, a campanha foi acusada de tentar destruir provas. A pesquisa a ser divulgada pelo Ipec às vésperas da eleição dirá se este fato impactou o eleitorado contra Tarcísio e a favor de Haddad. Contudo, não se pode subestimar a força do antipetismo no estado: segundo a última pesquisa Ipec, Haddad apresenta 43% de rejeição contra 31% de Tarcísio. Esta pesquisa também mostrou empate técnico entre Bolsonaro (47% das intenções de voto) e Lula (44%).
Entre o bolsonarismo e a neutralidade em disputas nos estados do Sul
No Sul do país, em dois estados a disputa será decidida no segundo turno. Em Santa Catarina o cenário não traz muitas surpresas. O senador Jorginho Mello (PL), que terminou o primeiro turno à frente com 38,6% dos votos válidos, lidera as pesquisas na segunda rodada. Ele aparece na última pesquisa Ipec (18 de outubro) com 59% das intenções de voto contra 26% do ex-deputado federal e ex-prefeito de Blumenau, Décio Lima (PT). Em votos válidos Jorginho tem 69% contra 31% do petista.
O cenário não surpreende devido à força da direita e de Bolsonaro no estado. No primeiro turno, Bolsonaro venceu em 263 cidades catarinenses ante 32 de Lula, e teve 62,2% dos votos válidos contra 29,5% do ex-presidente. O candidato alinhado a Bolsonaro recebeu o apoio dos candidatos derrotados no primeiro turno (com exceção do PDT) e das principais forças políticas do estado. Assim, embalado no fortalecimento de uma direita mais ideológica e na força de Bolsonaro, Jorginho não deve encontrar problemas para confirmar seu favoritismo no próximo domingo.
No Rio Grande do Sul, depois da surpresa do primeiro turno quando o ex-ministro de Bolsonaro Onyx Lorenzoni (PL) terminou à frente com 37,5% dos votos contra 26,81% de Eduardo Leite (PSDB), alguns analistas esperavam o alinhamento de Leite com a candidatura de Lula a nível nacional como forma de atrair os votos da esquerda gaúcha. Este alinhamento não ocorreu. Leite optou por permanecer neutro frente à uma candidatura fortemente alinhada a Bolsonaro, contando que poderia atrair os votos dos lulistas devido à rejeição ao candidato do PL. Sua estratégia pareceu acertada, já que mesmo sem o apoio de Leite, o PT gaúcho declarou voto crítico no candidato do PSDB, visto como alternativa menos pior diante da possibilidade de vitória de um dos principais aliados de Bolsonaro.
Segundo a última pesquisa Ipec, divulgada no dia 28 de outubro, Leite aparece com 50% das intenções de voto contra 40% de Onyx, o correspondente a 56% x 45% dos votos válidos. Se o favoritismo de Leite se confirmar neste domingo, o Rio Grande do Sul reelegerá pela primeira vez um governador desde que esta possibilidade foi introduzida, em 1997, e o PSDB terá garantido uma sobrevida no comando do quinto maior colégio eleitoral do país.
Bolsonarismo vivo na única disputa no Centro-Oeste e nas disputas na região Norte
Único estado da região Centro-Oeste com disputa em segundo turno para o cargo de governador, a eleição em Mato Grosso do Sul tem sido marcada pela força do bolsonarismo, seja no alinhamento de Capitão Contar (PRTB) à candidatura presidencial de Bolsonaro ou por impulsionar a neutralidade de Eduardo Riedel (PSDB). O resultado do primeiro turno no estado refletiu o peso do apoio de Bolsonaro na região, e deixou fora do segundo turno políticos tradicionais do estado. A eleição sul-mato-grossense é uma das mais incertas deste segundo turno e deve ser decidida voto a voto. Segundo a última pesquisa Ipec, os dois candidatos aparecem com 45% das intenções de voto ou 50% dos votos válidos.
Bolsonaro também influencia as duas disputas na região Norte. Em Rondônia, os dois candidatos estão alinhados ao presidente, em uma competição ainda indefinida. De acordo com a última pesquisa Ipec, Marcos Rogério (PL) e Coronel Marcos Rocha (União Brasil) possuem 45% das intenções de voto ou 50% dos votos válidos cada um.
No Amazonas, Wilson Lima (União Brasil) disputa a reeleição contra o ex-governador Eduardo Braga (MDB), com boas chances de ser reconduzido. Na pesquisa Ipec de 21 de outubro, Lima aparece com 53% das intenções de voto contra 41% de Braga, o que significa 56% dos votos válidos contra 44%.
A força da esquerda nas disputas no Nordeste
A movimentação do xadrez político alagoano despertou atenção não apenas no estado, mas de todo o país, seja pelo apoio de lideranças nacionais às candidaturas que disputam o segundo turno, seja por decisões judiciais como a do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que afastou o governador e candidato à reeleição, Paulo Dantas (MDB), ou a da 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), que decidiu, por unanimidade, lhe devolver o mandato no último dia 25 de outubro.
Dantas é o candidato do grupo do senador Renan Calheiros (MDB) e tem hoje apoio de Lula. Na pesquisa Ipec divulgada no dia 20 de outubro, Dantas aparecia com 49% das intenções de voto ante 40% de Rodrigo Cunha (União Brasil). Entretanto, a pesquisa do dia 28 aponta empate técnico entre os dois candidatos, 46% de Dantas contra 42% de Cunha, o que representa, em votos válidos, 52% contra 48%. Apesar do favoritismo de Dantas, o cenário ainda é muito incerto. Seria um caso inédito de virada do segundo colocado no 1º turno sobre o primeiro, já que Cunha teve apenas 26,79% dos votos válidos ante 46,6% de Dantas.
A Bahia é o quarto colégio eleitoral mais importante do país e surpreendeu todos os diagnósticos eleitorais que apontavam a vitória de ACM Neto (União Brasil) em 1º turno. Pela primeira vez a disputa no estado seguiu para o 2º turno, e Jerônimo Rodrigues (PT) terminou a disputa à frente de ACM Neto. A pesquisa Ipec divulgada no dia 21 de outubro mostra uma disputa bastante polarizada. Na pergunta estimulada a diferença entre os dois é de 4 pontos, Jerônimo é citado por 48% dos entrevistados e ACM por 44%. Considerando apenas votos válidos, o petista teria 52% contra 48% de ACM. Apesar do cenário de incerteza, pela trajetória eleitoral desde o primeiro turno, Jerônimo aparece com mais chances de vencer o pleito e manter a hegemonia do PT no estado.
A judicialização da disputa em Sergipe teve reflexos na disputa acirrada entre as candidaturas que disputam o 2º turno. A candidatura de Valmir de Francisquinho (PL) foi impugnada ainda no 1º turno, seu nome apareceu nas urnas, mas seus votos foram invalidados. A disputa ficou entre Rogério Carvalho (PT), sustentado por redes de apoio profissionais, e Fábio Mitidieri (PSD), que manteve palanque neutro e consolidou uma base de apoio formada essencialmente por grupos políticos de base familiar. Na pesquisa de 20 de outubro, o petista aparece com 43% ante 40% de Mitidieri, um resultado apertado quando traduzido em votos válidos: 51% a 49%. Um cenário marcado por muita indefinição no estado.
Além de Fátima Bezerra, reeleita para o Rio Grande do Norte, o Nordeste terá mais uma governadora eleita neste domingo, em Pernambuco, com a disputa entre Marília Arraes (Solidariedade) e Raquel Lyra (PSDB). Raquel, que preferiu não declarar apoio a uma candidatura presidencial, lidera as pesquisas. De forma espontânea é citada por 43% contra 34% de Arraes na pesquisa divulgada no dia 25 de outubro. Na estimulada, a distância entre elas passa a ser de 8 pontos, Raquel tem 51% das intenções de votos contra 43% de Marília, o que corresponde a 54% de votos válidos ante 46%. Nessa toada, o PSDB pode ter uma governadora eleita em Pernambuco.
Na Paraíba, o governador João Azevêdo (PSB) lidera as pesquisas e enfrenta uma situação mais confortável para ser reeleito. A diferença para o seu adversário Pedro Cunha Lima (PSDB) é de 5 pontos, com 47% ante 42% do tucano, o equivalente a 53% dos votos válidos ante 47%.
Apoios aos candidatos no segundo turno
Assim como no primeiro turno, a posição dos candidatos (as) em se alinharem (ou não) às candidaturas presidenciais tornou-se uma estratégia de sobrevivência, com o principal objetivo de ampliar suas bases eleitorais. No segundo turno, dentre os eleitos, 9 declararam apoio a Bolsonaro e 6 a Lula.
Nos demais estados que ainda disputam o segundo turno, 4 deles possuem disputadas polarizadas e alinhadas às candidaturas presidenciais: Amazonas, Espírito Santo, Santa Catarina e São Paulo. Em outros 7 estados, pelo menos uma das candidaturas não oficializou um palanque presidencial: Rodrigo Cunha em Alagoas, ACM Neto na Bahia, Eduardo Riedel em Mato Grosso do Sul, Pedro Cunha Lima na Paraíba, Raquel Lyra em Pernambuco, Fábio Mitidieri em Sergipe e Eduardo Leite no Rio Grande do Sul. Em Rondônia, Bolsonaro possui dois palanques, Marcos Rocha e Marcos Rogério.
A neutralidade em alguns palanques parece ter sido uma estratégia eficiente, mas não deve ser o que definirá a situação em alguns estados nos quais fatores locais também impactam na decisão do eleitor.
Luciana Santana
Mestre e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora na Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e do PPGCP/UFPI, líder do grupo de pesquisa Instituições, Comportamento político e Democracia, e atualmente ocupa a diretoria da regional Nordeste da ABCP.
Marta Mendes da Rocha
Professora associada do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), onde coordena o Núcleo de Estudos sobre Política Local (Nepol). Possui doutorado em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais. Foi pesquisadora visitante na University of Texas at Austin com bolsa da Fulbright Fundation. Web page: martamrocha.com