O que é possível concluir sobre o primeiro turno das eleições no Mato Grosso?
Raimundo França
Publicado no GGN
As eleições gerais no Mato Grosso não apresentaram grandes surpresas no que tange às sondagens realizadas no período pré-eleitoral e no próprio período eleitoral, posto que estas já indicavam vantagens substantivas do governador Mauro Mendes (União Brasil) e do presidente Jair Bolsonaro (PL), ambos candidatos à reeleição.
O Partido dos Trabalhadores não conseguiu construir uma candidatura competitiva que fizesse frente ao favoritismo de Mendes. A candidatura da primeira-dama da capital, Márcia Pinheiro (Federação PT, PV e PC do B) foi definida apenas dez dias antes do prazo final para registro de candidaturas oficiais, a partir de uma articulação do senador Carlos Fávaro (PSD) e do deputado federal Neri Geller (PSD) junto ao ex-presidente Lula (PT).
Márcia Pinheiro converteu-se na principal concorrente do governador, mas sua votação e dos demais candidatos não foram suficientes para levar a decisão para o segundo turno. Mauro Mendes obteve 68,45%, contra 16,41% de Márcia Pinheiro, 14,34% do Pastor Marcos Ritela (PTB) e 0,80% de Moisés Franz (PSOL-REDE).
Para o Senado, não houve grandes percalços à reeleição do senador Wellington Fagundes (PL). Nas pesquisas de intenção de voto, seus adversários pontuavam abaixo dos 20% enquanto Fagundes sempre aparecia na casa dos 40%. Além disso, seu principal concorrente, o deputado federal Neri Geller, apoiado pelo ex-presidente Lula, teve seu registro de candidatura cassado há dois dias das eleições, o que selou a reeleição de Wellington Fagundes (PL) com tranquilidade.
Para a Assembleia Legislativa do Estado do Mato Grosso (ALMT), as pesquisas foram bastante assertivas, posto que os quatro candidatos com mais menções acabaram sendo também os mais votados, com destaque para Janaína Riva (MDB) que foi a mais votada, com 82 mil votos, contribuindo significativamente para que o MDB conquistasse quatro das 24 cadeiras em disputa. Destaque também pode ser dado ao União Brasil, que elegeu três deputados estaduais, e ao PSB, que também elegeu quatro. No quadro de eleitos, somente os dois deputados do PT não estão alinhados ao governador Mauro Mendes. Importante também destacar a baixa renovação, já que dos 24 deputados estaduais da atual legislatura, 18 foram reeleitos.
Quadro diferente pode ser observado na eleição para a Câmara dos Deputados. A bancada do Mato Grosso apresentou grande renovação com apenas três dos oito deputados atuais conseguindo a reeleição: Emanuelzinho Pinheiro (MDB), Juarez Costa (MDB) e José Medeiros (PL). Os demais, à exceção de Fábio Garcia que já foi deputado federal e atua como suplente de senador pelo Mato Grosso, são políticos sem experiência política, eleitos na esteira do bolsonarismo, como é o caso de José Medeiros (PL). O PL elegeu metade da bancada mato-grossense na Câmara dos Deputados. Somado ao União Brasil que, no Mato Grosso, é alinhado a Bolsonaro, os dois partidos conquistaram seis das oito cadeiras, dando à bancada do estado um perfil fortemente conservador. A grande surpresa nas eleições para a Câmara foi a não recondução da deputada federal Rosa Neide (PT). Mesmo tendo sido a campeã de votos, com 124 mil, a Federação PT-PV-PC do B não conseguiu atingir o quociente eleitoral.
No contexto do cenário exposto acima, pode-se afirmar que o resultado das eleições gerais confirmou a preferência de parte significativa do eleitorado mato-grossense por partidos e candidatos posicionados à direita do espectro político brasileiro, com destaque para as lideranças ligadas ao bolsonarismo. Alguns exemplos são a votação expressiva do candidato ao governo, Pastor Marcos Ritela (PTB) que, embora não fosse o candidato de Bolsonaro, era o candidato de maior proximidade ideológica; e a expressiva votação de Antônio Galvan, liderança fortemente vinculada ao bolsonarismo, para o Senado (25% dos votos).
Embora o governador Mauro Mendes (UNIÃO BRASIL) e Wellington Fagundes (PL) – este último, inclusive, foi líder do governo Dilma Rousseff – tenham tido o apoio de Bolsonaro, eles não são considerados bolsonaristas raiz, ao contrário dos dois supracitados que, em suas campanhas, mostraram um alinhamento umbilical com o bolsonarismo e suas pautas.
A maioria dos candidatos eleitos têm forte vínculo com a agenda de desenvolvimento que tem o agronegócio como centro dinâmico da economia mato-grossense, ainda que os candidatos tipicamente ligados ao agronegócio não tenham obtido grande sucesso eleitoral. O resultado ratifica o comportamento político mais conservador do eleitor mato-grossense que já tinha sido expresso em outras eleições. Em 2022, ele apareceu de forma mais clara, ainda que o índice de abstenção tenha sido de 23%, o segundo maior do país.
Raimundo França é doutor em Ciência Política, professor adjunto da Universidade do Estado do Mato Grosso (UNEMAT) e membro do Laboratório de Estudos Geopolíticos da Amazônia Legal.