por Mariana Dutra
Arleth Santos Borges
Nove candidatos disputam o governo do Maranhão, embora apenas quatro sejam de fato competitivos: Carlos Brandão (PSB), Edvaldo Holanda Jr., Lahesio Bonfim (PSC) e Weverton Rocha (PDT). Há um nítido favoritismo de Brandão, seguido de Weverton, os quais assumem posições bem distintas em relação às candidaturas presidenciais: Brandão apoia Lula; Weverton diz que o seu grupo tem apoiadores de Ciro, Bolsonaro e Lula; Lahesio apoia Bolsonaro.
Carlos Brandão é o atual governador. Ele é médico veterinário e empresário ruralista, é do PSB, já foi deputado federal e vice-governador durante os sete anos do governo Flávio Dino e tem como vice o ex-secretário de educação, Felipe Camarão, do PT. Sua coligação tem 10 partidos, incluindo duas federações: PSB, MDB, PP, PATRIOTA, PODEMOS, Federação PT/PCdoB PV e Federação PSDB CIDADANIA, uma composição de espectro ideológico bem heterogêneo.
Lahesio Bonfim é médico e fazendeiro, prefeito do município de São Pedro dos Crentes e tem como vice o médico e vereador de São Luís, Dr. Gutemberg, do PSC. Sua coligação tem o PSC e PMN. Ele se declara de direita e, durante a pandemia, adotou o negacionismo bolsonarista, posição que ainda defende.
Weverton Rocha é senador e empresário. É do PDT, já foi deputado federal, tem como vice o deputado estadual Hélio Soares, do PL, e uma coligação de seis partidos: PDT, PL, PTB, REPUBLICANOS, PROS e AGIR, de amplo arco ideológico. Sua chapa PDT/PL traz um dilema em relação ao palanque presidencial, pois o PDT, de Weverton, tem o candidato Ciro Gomes, e o partido do vice tem Bolsonaro; não bastasse isso, Weverton assume mais Lula do que Ciro em sua campanha.
Dado o histórico favoritismo de Lula no Maranhão e a polarização do pleito presidencial, a nacionalização da campanha local é fato inarredável, de modo que algumas tentativas de neutralidade em relação aos presidenciáveis e de enclausuramento da disputa no plano local, ensaiadas por Weverton e Laehesio, têm se revelado improdutivas.
Programas e Agenda Ambiental
Os programas de Brandão, Lahesio e Weverton são parecidos em conteúdos e abrangência. Para o Maranhão seguir avançando é o lema do programa de Brandão, com sete eixos de intervenção, um deles sobre meio ambiente. O de Lahesio, Maranhão na rota do desenvolvimento, constata uma “dura realidade do Maranhão” e critica o “equivocado modelo de desenvolvimento econômico experimentado ao longo da história, que legou à população os piores indicadores sociais e econômicos do Brasil”, sendo organizado em 12 seções, uma delas sobre o meio ambiente. O programa de Weverton sintetiza um Projeto de Desenvolvimento do Maranhão, tem como um dos eixos temáticos Maranhão Ambiental e advoga um “pacto pela superação da pobreza” e um “desenvolvimento de concertação” entre Estado, sociedade e setor produtivo.
Há temas e propostas que, resguardadas as diferenças, são comuns aos três candidatos: fontes alternativas de energia – eólica, solar, gás natural e hidrogênio verde; políticas de proteção/recuperação/uso sustentável e revisão do plano estadual de recursos hídricos, incluindo retomada do projeto de águas perenes na Baixada Maranhense e revitalização da bacia hidrográfica do Itapecuru – PROITA; também há propostas em comum sobre resíduos sólidos – erradicação de lixões, coleta seletiva, reciclagem e consórcios municipais para viabilizar aterros sanitários, usinas de compostagem e incineração do lixo perigoso.
Alguns temas tiveram propostas de dois candidatos: acesso ao saneamento básico (Weverton e Lahesio); recuperação de áreas degradas, plantio de mudas nativas e arborização (Brandão e Lahesio); Zoneamento ecológico-econômico e/ou zoneamento agroecológico, monitoramentos e plataforma com informações e bases cartográficas (Brandão e Weverton).
Outras propostas são específicas de cada candidato: Brandão propõe implementar plano de desenvolvimento socioeconômico sustentável de Alcântara e área de influência do Centro Aeroespacial, Projeto Amazônico de Gestão Ambiental e Social Sustentável – PAGES/FIDA, plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono) e programa estadual de crédito de carbono para pequenos e médios produtores; ele também propõe elaboração de plano estadual de desenvolvimento rural sustentável com foco na agricultura familiar, educação ambiental e cidadania sustentável, prevenção e controle do desmatamento e queimadas, criação do Comitê de prevenção e coordenação de combate às enchentes e inundações, a defesa dos recursos naturais – fauna, flora e pesca – e Programa de Bolsa para famílias cadastradas em projetos que aliem produção e preservação ambiental.
Lahesio, por sua vez, propõe orientar agricultores e pecuaristas para a preservação ambiental e o uso correto dos recursos naturais, indústrias a partir das cadeias do agro e babaçu e aceleração dos licenciamentos ambientais, mediante carta compromisso do beneficiário com vistas a “diminuir a tutela do estado, de forma cuidadosa e criteriosa, liberando ao cidadão a responsabilidade pelo cumprimento de determinações legais de cada área, sem precisar de autorizações desnecessárias, vistorias e liberações que só atrasam e impedem o desenvolvimento econômico”.
Weverton propõe capacitar equipe maranhense em gestão territorial estratégica e trazer, do Instituto Emílio Goeldi (Belém-PA) para o Maranhão, o núcleo de inteligência territorial da Amazônia Maranhense. Taamém propõe microzoneamento da carcinicultura marinha para a Baixada, atualização dos planos diretores municipais e leis de zoneamento, uso e ocupação do solo e organização de banco de dados sobre a Amazônia Maranhense.
Todos têm sua agenda mais ampla focada na intensiva exploração dos recursos naturais. Brandão silencia sobre as condições atuais, Lahesio acusa os baixos indicadores sociais e Weverton fala de “desenvolvimento por concertação”, mas nenhum deles questiona as causas ou os fatores de agravamento dos problemas ambientais existentes, não examinam as conexões entre esse quadro e o “desenvolvimento” que, desde os anos 1960, tem sido peça-chave do discurso de todos os governantes do estado. Eles também são indiferentes ao fato de que, após 40 anos de grandes projetos minero-metalúrgicos e uma década de MATOPIBA, mais da metade dos maranhenses vive em pobreza extrema, e se multiplicam problemas como o desmatamento, as investidas contra territórios indígenas e reservas, poluição por minerais pesados; contaminação de solo, água e até de pessoas, por agrotóxicos, a não balneabilidade das praias da capital, entre outros.
As abordagens não partem de um diagnóstico da situação atual e são pouco convincentes os projetos para superar a pobreza e a degradação ambiental com, praticamente, os mesmos empreendimentos e métodos que vêm produzido um Maranhão de riquezas concentradas ao lado de pobreza e de prejuízos socioambientais difusos.
Arleth Santos Borges é doutora em Ciência Política (IUPERJ) e professora associada da Universidade Federal do Maranhão – UFMA.
por Fernanda Rios Petrarca
Fernanda Rios Petrarca
Wilson José Ferreira de Oliveira
Semelhante ao que se observa no Brasil, a política sergipana se caracteriza pela forte fragmentação, marcada por partidos divididos internamente em múltiplos agrupamentos que disputam seu controle e liderança. Em tal situação, uma das características centrais é a composição sustentada, de uma parte, em redes de base familiar e, de outra, em redes de lideranças pessoais formadas na política profissional. Assim, é comum esses grupos políticos se definirem ou pelo nome da família, como “os Alves”, “os Valadares”, “Os Franco”, “Os Amorim”, ou pelo nome da liderança e sua base, como “o grupo” “de Jackson”, “de Belivaldo Chagas”, “de André Moura”, e assim por diante. Isso porque a estrutura de poder e de dominação passa por esses agrupamentos que disputam a liderança dos partidos, dos blocos e lutam para preencher os cargos em todos os níveis (federal e estadual). A capacidade de liderança depende dos cargos eletivos, que funcionam como recurso de competição política regional.
Desde a primeira eleição para o governo do estado, após a redemocratização do país, em 1983, até o último pleito, Sergipe elegeu o sucessor. A exceção dessa regra foi o primeiro mandato do governo de Marcelo Deda (PT) em 2007, o qual foi marcado por uma ruptura com o bloco político que comandava o estado desde a década de 1970. Esse bloco, resultado da aliança entre vários agrupamentos, teve os “Franco” como liderança e elegeu sucessores até 2007. O contexto da eleição de Deda foi marcado por uma diluição deste bloco, provocando uma ruptura nessa continuidade e desenhando, para o estado, uma nova forma de composição dos agrupamentos que abriu a oportunidade para novas lideranças.
A eleição de Deda foi marcada pela emergência de um novo bloco político que se manteve articulado até a eleição de 2018. Assim como os anteriores, Deda se reelegeu. Com a sua morte precoce, seu vice, Jackson Barreto (PMDB), tornou-se governador e também se reelegeu. Como num movimento contínuo, a última eleição, em 2018, elegeu Belivaldo Chagas (PSD), vice de Jackson Barreto e primeiro vice de Marcelo Deda. Entretanto, nas eleições de 2022, o bloco se dissolveu. O PT lançou candidatura própria, com Rogério Carvalho à frente e com o apoio de Jackson Barreto (PMDB). Belivaldo Chagas (PSD) rompeu com sua vice, Eliane Aquino (PT), e lançou apoio a Fábio Mitidieri (PSD) como seu sucessor.
O resultado dessa dissolução já pode ser sentido nas pesquisas eleitorais, asquais mostram um cenário bem diferente para 2022. O quadro abaixo nos revela os quatro candidatos mais competitivos, segundo a última pesquisa do IPEC divulgada em 22 de setembro de 2022.
É nesse contexto que Valmir de Francisquinho, do Partido Liberal (PL), apresenta-se como o candidato da oposição no estado. Apesar de oficialmente representar a coligação com Jair Bolsonaro, sua estratégia é a dissociação da imagem do atualpresidente. Seus programas de rádio, TV e redes sociais não fazem menção a Bolsonaro, e suas mensagens vão, muitas vezes, na direção oposta, como a defesa das vacinas, o controle da pandemia e o diálogo, inclusive, com sindicatos. Isso ocorre porque o desempenho de Lula no estado é alto, representando 56% das intenções de voto, contra 26% de Jair Bolsonaro. Isso faz com que Francisquinho se descole o tempo inteiro do presidente, construindo uma posição autônoma e defendendo um voto mais pessoal. Esse movimento não é, contudo, recente. Em maio do corrente ano, quando Bolsonaro esteve no estado para inauguração de uma obra, Valmir não esteve presente. Sua coligação traz, ainda, o nome de Eduardo Amorim (PL) para o Senado e é apoiada, em grande medida, em Itabaiana, município em que foi prefeito e que é um dos maiores colégios eleitorais do estado, e nos municípios em que o grupo dos “Amorins” tem base eleitoral. Mas, apesar de ter conseguido homologar a sua candidatura e de ter apresentado desempenho nas pesquisas, ela está suspensa por ordem do Tribunal Superior Eleitoral. O órgão manteve a decisão do Tribunal Regional Eleitoral de Sergipe de decretar a inelegibilidade de Valmir e de seu filho, Talysson de Valmir (PL), por abuso de poder político e econômico pelo período de oito anos, a contar das eleições de 2018.
Enquanto Valmir de Francisquinho abre a corrida com folga tentando esconder Bolsonaro, os outros dois candidatos, Rogério e Mitidieri, seguem quase empatados e buscam associar sua imagem à do ex-presidente Lula. Rogério Carvalho, do PT, é o palanque oficial de Lula na campanha. Atual senador pelo estado, ele representa a coligação da Federação Partidária (PV, PT e PCdoB) com o MDB e o PSB. A aliança com dois importantes agrupamentos políticos sergipanos é a marca a ser destacada nessa coligação, que conta com o apoio do MDB, na figura de Jackson Barreto, e do PSB, a partir da liderança do ex-governador e senador por trêsmandatos, Antônio Carlos Valadares, e de seu filho, que concorre ao Senado. Enquanto no cenário nacional o MDB segue com candidatura própria, em Sergipe, ele monta palanque com o PT. Isso se deve, em parte, à liderança de Jackson Barreto dentro do partido e de sua aliança com o PT desde o governo de Marcelo Deda (PT).
A coligação liderada por Fábio Mitidieri representa a sucessão de Belivaldo Chagas e é a que mais expressa os desafios de equilibrar a dinâmica dos compromissos locais com as alianças nacionais. Fábio Mitidieri é deputado federal e uma importante liderança regional, conhecida por conduzir não só o PSD no estado, mas também “os Mitidieri” como agrupamento político. Sua coligação traz o nome de Laércio Oliveira, liderança local e representante do governo Bolsonaro em Sergipe, como senador, e tem ainda o apoio do prefeito de Aracaju, do PDT. Na tentativa de atrair um eleitorado diversificado (conservador e progressista) e contrabalançar suas alianças nesses diferentes agrupamentos no estado, Mitidieri sustenta que “o voto não é agarrado” e defende abertamente, nos seus programas de rádio e TV, o voto no ex-presidente Lula.
Por fim, o senador Alessandro Vieira se lança como oposição ao bloco PT/PSD. Como ex-delegado, esteve à frente de diversas investigações de corrupção, lançando seu nome na esteira do lavajatismo e apresentando-se como uma rota alternativa à chamada “velha política”. Duas são as grandes dificuldades de sua candidatura: a capacidade de sustentar sólidas alianças regionais com agrupamentos políticos mais amplos e a apresentação de uma pauta para além da chamada “luta contra a corrupção”, diante dos desafios da fome e do desemprego.
Apesar da tendência em Sergipe de se reeleger o sucessor, a fotografia atual indica uma rota diferente das observadas em pleitos anteriores. Quais seriam, então, os fatores que levam a um movimento em direção ao situacionismo e por que a tendência é a ruptura disso em 2022?
Em nossa avaliação, a compreensão dessas movimentações implica dar conta de um sistema político fundado em “alianças personificadas” entre lideranças de agrupamentos diversificados. A chance de recondução ao cargo ou a eleição do sucessor depende de alianças com agrupamentos fortes dentro do estado, que se organizam a partir de um grande bloco e que, por essas condições, conseguem preencher outros cargos nos níveis municipal, estadual e federal. A ruptura na continuidade ocorre quando o bloco se dissolve e as alianças se quebram, expondo a fragmentação, as divisões internas, e abrindo a oportunidade para novas lideranças. Foi esse movimento que gerou as condições para a eleição de Deda em 2007, dando origem a um novo bloco, resultado da aliança entre PT, PMDB e PSD. E é justamente a ruptura desse bloco no pleito atual que está pavimentando o terreno para um novo desenho das relações de força.
por Mauro Petersem Domingues
Mauro Petersem Domingues
Rodolfo Kinupps Neto
Publicado no GGN
Neste artigo, analisamos o cenário das eleições gerais de 2022 no Espírito Santo, considerando cada cargo em disputa. Em função de grandes diferenças registradas nos resultados de pesquisas eleitorais do período e mesmo correndo risco de viés, optamos por nos apoiarmos nos dados de pesquisa do Instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec) realizada entre os dias 19 e 21 de setembro de 2022.
Governo estadual
O cenário na disputa ao governo mostra Renato Casagrande (PSB), candidato à reeleição, com 53% das intenções de voto na consulta estimulada e, assim, com grande chance de vencer no primeiro turno. Seu adversário mais direto é o ex-deputado federal Carlos Manato (PL), que aparece com 18%. Dois outros candidatos, Audifax Barcelos (Rede) e Guerino Zanon (PSD), aparecem ambos com 7% cada, e Capitão Vinicius Souza (PSTU) aparece com 1%. Os candidatos Aridelmo Teixeira (Novo) e Claudio Paiva (PRTB) não chegaram a 1% das intenções de voto. Com 7% dos entrevistados apontando a intenção de voto em branco ou nulo, e outros 8% sem definir preferência, o cenário parece fortemente favorável à vitória de Casagrande já no primeiro turno.
Segundo informações veiculadas pela imprensa local, ato recente em favor da candidatura de Casagrande reuniu o apoio de 74 dos 78 prefeitos do estado. Dos municípios de maior expressão eleitoral, somente o prefeito de Vitória, capital do estado, não apoia Casagrande e está com Manato. Tanto Lorenzo Pazolini, prefeito de Vitória, como Carlos Manato apoiam a candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência. Já Renato Casagrande tem o apoio do PT no estado e, oficialmente apoia a candidatura de Lula, embora mantenha esse apoio de forma discreta, uma vez que Bolsonaro tem forte apoio no estado, com 39% das intenções de voto, tecnicamente empatado com Lula, que tem 38%. Em um cenário tão dividido, não interessa a Casagrande enfatizar o apoio a Lula para não afastar o eleitorado antipetista. Ao mesmo tempo, não lhe é possível abrir mão dos votos dos adeptos de Lula.
De fato, uma das principais armas que tanto Manato quanto Zanon têm utilizado nessa campanha é enfatizar os vínculos entre Casagrande e Lula, na esperança de atraírem as simpatias do eleitorado antipetista. Se Manato tem sido o nome de referência do bolsonarismo no estado, mais recentemente, também Zanon tem procurado se identificar com o atual presidente, o que pode ser visto inclusive em seu material impresso de campanha.
Audifax Barcelos, ex-prefeito de Serra, município mais populoso e com o maior eleitorado do estado, que também já foi deputado federal, parece ter, nessa eleição, objetivos mais locais. Barcelos vem mantendo com Sérgio Vidigal (PDT), atual prefeito de Serra, uma rivalidade que os faz se alternarem no comando do município. Tendo perdido as eleições passadas para o rival, Barcelos parece usar do palanque de candidato a governador como forma de manter a fidelidade de seus eleitores no município e reavivar a memória de seu nome junto ao eleitorado local, o que lhe possibilita a chance de voltar a ser eleito para o comando da prefeitura daqui a dois anos.
O cenário atual se explica, em linhas gerais, por vários fatores. Primeiramente, pela forte liderança de Casagrande, incontestavelmente o maior nome da política do estado desde que o ex-governador Paulo Hartung desistiu de disputar cargos e passou aos bastidores da política, apostando na viabilidade da chamada “terceira via” no plano nacional. Em segundo lugar, pelo reflexo, no plano estadual, do fracasso das tentativas de viabilizar essa “terceira via”, que reduziu a disputa nacional às candidaturas de Lula e Bolsonaro. Em terceiro lugar, à boa avaliação da administração de Casagrande à frente do governo estadual, o que lhe dá uma vantagem de se colocar acima das disputas ideológicas, defendendo sua reeleição. Um quarto fator é a presença do ex-senador Ricardo Ferraço (PSDB) na chapa de Casagrande. Apesar de derrotado nas eleições de 2018 para o Senado, Ferraço é tido como uma liderança emergente no estado e com fortes relações com o ex-governador Paulo Hartung. Ao oferecer a Ferraço a vaga de vice-governador em sua chapa, Casagrande esvaziou um possível palanque de oposição ao centro e fortaleceu sua própria posição, ampliando o espectro político da aliança governista. Por fim, o fato de Casagrande ter o apoio de Lula e da aliança liderada pelo PT faz com que ele não tenha adversário eleitoral à esquerda, podendo atrair os votos dos eleitores centristas, que prefeririam uma terceira via, e empurrando as candidaturas de oposição para a direita, que passam a disputar entre si os votos bolsonaristas.
Nesse último caso, pesa o fato de que, fora do eleitorado de direita ou extrema-direita, a imagem pública de Carlos Manato não é muito positiva. Mesmo estando sem mandato há quase quatro anos – uma vez que abriu mão de tentar a reeleição à Câmara dos Deputados para disputar o governo nas eleições de 2018 –, Manato apresenta uma taxa de rejeição de 26%, maior que os 22% de Casagrande, mesmo com o governador estando à frente do estado há quase quatro anos. Ao encarnar tão plenamente o mais extremo bolsonarismo, Manato acaba por capturar essa bolha sem, no entanto, ser capaz de agregar outros segmentos conservadores ou mesmo de centro-direita. Se isso lhe confere a condição de segundo mais votado para governador no estado, ao mesmo tempo esvazia o espaço para uma candidatura alternativa de centro-direita que pudesse rivalizar com Casagrande.
Um possível segundo turno na eleição para governador pode trazer dificuldades adicionais para Casagrande, caso seja acompanhado também por um segundo turno nas eleições presidenciais, uma vez que, para presidente, o eleitorado capixaba se mostra muito mais dividido. Esse cenário abre a possibilidade de que uma candidatura de oposição, no plano estadual, se beneficie da polarização nacional. E de que a estratégia de Casagrande de não se envolver fortemente com a candidatura de Lula acabe levando a um descontentamento do eleitorado lulista e à consequente perda de apoio na eleição para o governo estadual.
Senado Federal
A única vaga ao Senado encontra-se disputada hoje pela atual senadora Rose de Freitas (MDB) e pelo ex-senador Magno Malta (PL). Freitas estabeleceu aliança com Casagrande e, tal como ele, esconde em sua campanha a preferência para a presidência da República. Já Malta é explícito em seu alinhamento com Bolsonaro. A última pesquisa do Ipec aponta uma virada de Freitas sobre Malta: a senadora lidera a corrida com 31% das intenções de voto, e Malta registra 27%.
Pesa contra Malta o risco de condenação no STF por ataques feitos ao ministro Luís Roberto Barroso. Se condenado pelo crime de calúnia, o candidato corre o risco de, mesmo eleito, não poder ser diplomado. Sendo um fato de domínio público, a simples presença desse risco pode afetar o comportamento do eleitorado. Uma eventual ausência de Malta nas eleições tende a favorecer a vitória de Freitas, mas, ao mesmo tempo, pode fazer migrar votos para o terceiro colocado na corrida, o atual deputado estadual Erick Musso (Republicanos), que hoje conta com 8% das intenções de voto.
Câmara dos Deputados
Na Câmara dos Deputados, todos os dez candidatos pelo estado concorrem à reeleição. Nas eleições de 2018, houve uma renovação de 60% da bancada. Neste ano, apesar de os detentores de mandato estarem fortalecidos pelo acesso a recursos de campanha e de não haver no horizonte uma grave crise do sistema partidário, como a que marcou o pleito passado, é razoável supor que, em função das mudanças na composição das alianças eleitorais, alguns dos atuais deputados não alcancem a reeleição. Alguma renovação deve ocorrer, mas nada parecido com a de 2018.
Assembleia Legislativa
Na Assembleia Legislativa, dos 30 deputados atuais, 22 se lançaram à reeleição, e sete buscam a Câmara dos Deputados e um o Senado Federal. A legislatura atual não foi marcada por nenhum grande desgaste político ou escândalo, o que leva a crer em uma forte taxa de reeleição entre os pleiteantes. A se manter a distribuição ideológica atual, a direita teria uma quase maioria na Casa, com cerca de 14 deputados, o centro seguiria esvaziado, com cerca de seis representantes, e a esquerda teria cerca de dez deputados.
Mauro Petersem Domingues é Cientista Social e Mestre em Ciência Política. Professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Espírito Santo.
Rodolfo Kinupps Neto é Cientista Social, Cientista Político e Especialista em Políticas Públicas. Professor da rede estadual de ensino do Espírito Santo.
por Breno Rodrigo de Messias Leite
Breno Rodrigo de Messias Leite e Rodolfo Silva Marques
Publicado no GGN
O recente processo eleitoral representa um marco histórico no Amazonas. As forças políticas em disputa interagem em um jogo incerto de interesses multivariados que envolvem atores políticos municipais, estaduais, nacionais e até internacionais. Ou seja, tanto as forças políticas nacionais quanto as locais travam pequenas batalhas nas suas respectivas trincheiras para a conquista dos corações, mentes e votos dos eleitores.
As eleições de 2022 no Amazonas sinalizam uma mudança de identidade política no interior de sua elite política local: a substituição da elite política forjada no esteio da redemocratização brasileira para outra nascida na ascensão disruptiva do bolsonarismo em 2018 (como afirmam os autores Jairo Nicolau ou Maurício Moura e Juliano Corbellini em livros que refletem sobre as últimas eleições). É óbvio que a perspectiva dos analistas só pode ser endossada pela verdadeira fonte da soberania, o cidadão-eleitor.
Assim, o objetivo da análise do cenário eleitoral no Amazonas é, primeiramente, identificar os grupos políticos – os blocos de poder – em disputa. Em segundo lugar, identificar os principais atores que lutam por uma vaga para o governo do Amazonas e as suas relações com os principais presidenciáveis. E, por fim, examinar as candidaturas para escolha do senador da República.
Antes de entrarmos na arena eleitoral do presente ano, partamos, pois, do status quo ante. A política eleitoral do Amazonas foi profundamente impactada pelas forças do bolsonarismo, por ocasião da vitória de Jair Bolsonaro (então no já extinto PSL) para a Presidência da República, em 2018. Os efeitos do bolsonarismo e as demandas por renovação da classe política convergiram, o que garantiu a vitória de Wilson Lima para o governo do estado (neófito na política e, à época, filiado ao PSC), eleito com 596.585 (33,73%), e que impôs uma dura derrota ao ex-governador Amazonino Mendes (PDT), que obteve 579.016 (32,74%) dos votos válidos.
O candidato vitorioso nunca foi uma liderança política estadual. O santareno Wilson Lima é jornalista e era apresentador do programa Alô Amazonas, da TV A Crítica, do grupo de comunicação ligado à família Calderaro. A popularidade do programa de meio-dia e o patrocínio de seus patrões fizeram com que o apresentador, já bastante conhecido em Manaus e nas demais cidades do interior do Amazonas, pudesse se transformar em um candidato eleitoralmente competitivo. Mesmo sem pertencer organicamente às bases ou vocalizar uma adesão ideológica ao bolsonarismo, Lima conseguiu surfar na onda disruptiva provocada pelo presidente da República eleito, em um típico jogo de ganha-ganha.
Quatro anos depois, eis que estamos nas eleições de 2022. E o que temos são três blocos eleitoralmente competitivos para as eleições majoritárias.
Wilson Lima, o candidato à reeleição e hoje filiado ao União Brasil (UB), lidera ampla coligação formada por dez partidos. A composição multipartidária conta com a aliança de partidos de direita e de centro-direita. A gestão de Wilson Lima foi marcada pela crise da falta de oxigênio hospitalar no período de agravamento da pandemia. Hoje, o seu nome lidera as pesquisas dos principais institutos. A relação de Wilson Lima com o presidente da República e candidato à reeleição é de equidistância pragmática. Jair Bolsonaro (hoje, no PL) não o apoia explicitamente, mas tampouco o rejeita como um aliado em potencial. Afinal, o presidente Jair Bolsonaro precisa de um palanque abrangente e da logística eleitoral do governador (em muitos casos, efetivo controle de prefeitos) para interiorizar a comunicação de sua campanha.
Amazonino Mendes, hoje no Cidadania e governador do Amazonas por vários mandatos (1987-1990; 1995-1998; 1999-2002; e 2017-2018), está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto. Sua candidatura faz parte de uma federação partidária composta por PSDB e Cidadania. Como os tucanos, nacionalmente, apoiam a candidatura de Simone Tebet (MDB), Amazonino ficou sem um robusto aliado de projeção nacional. Tal ausência, para Amazonino, por ser um político de perfil mais paroquial, pode não ser uma preocupação para o veterano.
Eduardo Braga, senador da República pelo MDB e governador do Amazonas por dois mandatos (2003-2006 e 2007-2010), está em terceiro lugar nas pesquisas e faz parte da coligação Em Defesa da Vida, que conta com partidos dos mais diferentes espectros ideológicos. A aliança Braga-Lula (PT) é histórica e foi iniciada em 2003, quando ambos foram eleitos pela primeira vez para os seus respectivos cargos. Eduardo Braga foi ministro da presidente Dilma Rousseff e realinhou-se ao PT junto com a ala lulista do MDB.
Quanto às candidaturas para o Senado Federal, podemos destacar quatro eleitoralmente competitivas, a saber: coronel Menezes, Luiz Castro, Omar Aziz, Arthur Virgílio Neto.
Coronel Menezes, companheiro de armas nas FFAA, foi apadrinhado pelo presidente Jair Bolsonaro ao indicá-lo para a superintendência da Suframa, em 2019. Licenciado do cargo, candidatou-se para a Prefeitura de Manaus, em 2020. Coronel Menezes é, certamente, o nome do palanque de Bolsonaro para o Amazonas. Nesta eleição de 2022 lidera as forças bolsonaristas no Estado.
Luiz Castro, do PDT, por sua vez, é um aliado de Ciro Gomes e da candidata ao governo, Carol Braz.
Omar Aziz, do PSD, é o nome de Lula para o Senado. Ex-governador do Amazonas (2011-2014), Omar foi peça importante como presidente da CPI da Pandemia no Senado, em 2021. Omar é aliado de Eduardo Braga de longa data. A tríade Lula-Braga-Aziz forma o palanque do centro-esquerda no Amazonas.
Por fim, Arthur Virgílio Neto, ex-prefeito de Manaus (1989-1992, 2013-2016 e 2017-2020) e ex-senador da República (2003-2010), lança seu nome para mais uma corrida eleitoral. Para esta eleição, aproximou-se de um rival histórico, Amazonino Mendes, candidato ao governo do Amazonas, e mantém uma relação equidistante em relação à presidenciável Simone Tebet, do MDB. A aliança Virgílio Neto-Amazonino parece valorizar mais a dinâmica política local, sem grandes inserções ou interesses na política nacional.
Resumidamente, podemos ter em mente que a competição eleitoral deste ano pode representar uma virada de chave na política amazonense. Afinal, novas lideranças surgem eleitoralmente competitivas e as antigas já se encontram, de fato, eleitoralmente bastante deterioradas. A renovação dos nomes, contudo, não significa, necessariamente, uma mudança de mentalidades ou de práticas.
Pelo contrário, há um certo continuísmo nas agendas e nas preocupações paroquiais dos candidatos em disputa. A eleição do próximo dia 2de outubro pode confirmar – ou não – nossas perspectivas e cenários apresentados.
Breno Rodrigo de Messias Leite é cientista político, professor do Instituto Amazônico de Ensino Superior (IAMES) e do Diplô Manaus. E-mail: [email protected].
Rodolfo Silva Marques é cientista político, professor-doutor da Universidade da Amazônia (UNAMA) e da Faculdade de Estudos Avançados do Pará (FEAPA). É colunista de política da CBN Amazônia Belém e do portal oliberal.com. E-mail: [email protected].
por Rodolfo Silva Marques
Rodolfo Silva Marques
Breno Rodrigo de Messias Leite
Publicado no GGN
A região Norte é a quarta do país em relação ao tamanho do eleitorado, com 12.560.410 pessoas aptas a votar – ou 8,028% do total nacional. Em área geográfica, tem os dois maiores estados da Federação – Amazonas e Pará.
Neste texto, para avaliar as eleições de 2022, usaremos como base informativa as pesquisas mais recentes do IPEC, considerando os estados da região. O quadro 1 traz um demonstrativo dos sete estados da região, considerando o número de eleitores e o percentual de cada uma dessas unidades federativas em relação ao total do eleitorado.
No Acre, com histórico recente de várias gestões petistas, o cenário se mostra favorável ao atual governador e candidato à reeleição, Gladson Cameli, do Progressistas (PP). Segundo dados divulgados pelo IPEC, em 19 de setembro, Cameli liderava a disputa com 54% das intenções de voto – consolidando a boa avaliação de seu governo –, contra 25% de Jorge Viana, do Partido dos Trabalhadores (PT). Para a única vaga do Senado, o candidato Alan Rick, do União Brasil (UB) lidera com 33%, enquanto Ney Amorim, do Podemos (PODE), tem 18%, e Marcia Bittar, do Partido Liberal (PL), tem 15%. A pesquisa ouviu 800 pessoas entre os dias 16 e 18 de setembro em 19 municípios do Acre. Alan Rick se mostra mais próximo da vitória, enquanto candidatos mais à esquerda estão mal posicionados no pleito.
No Amapá, o favoritismo para o cargo de governador é do ex-prefeito de Macapá-AP (2013-2016 e 2017-2020), Clécio Luís, do Solidariedade (SD). Clécio já foi filiado ao PT e ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e fortalece sua liderança no estado, para além da região metropolitana de Macapá. Ele tem o apoio do UB, do senador Davi Alcolumbre, e do Partido Democrático Trabalhista (PDT), do atual governador, Waldez Góes. Segundo o IPEC, divulgado em 17 de setembro, Clécio tem 50% das intenções de voto, contra 36% de Jaime Nunes, do Partido Social Democrático (PSD). O ex-presidente do Senado, Davi Alcolumbre, lidera corrida à reeleição com 44% das intenções de voto, contra 33% de Rayssa Furlan, do Movimento Democrático Brasileiro (MDB). A eleição pode se acirrar, considerando a diferença percentual entre os dois primeiros colocados, mas Alcolumbre tem a seu favor a defesa do seu mandato e o recall junto ao eleitor amapaense. A pesquisa ouviu 800 pessoas entre os dias 14 e 16 de setembro, em 12 municípios do Amapá.
No Amazonas, há uma disputa grande pelas primeiras posições, com três políticos muito conhecidos do eleitor pelas respectivas experiências em cargos públicos. Segundo o IPEC, o atual governador e candidato à reeleição, Wilson Lima (UB), está à frente, com 34% das intenções de voto, contra 26% do ex-prefeito de Manaus-AM e ex-governador, Amazonino Mendes (Cidadania), e 17% do senador pelo MDB, Eduardo Braga. Manaus concentra mais de 50% do eleitorado do estado. O levantamento do Instituto ouviu 800 pessoas, entre 14 e 16 de setembro, em 19 cidades amazonenses. Para o Senado, o cenário também está embolado, com liderança do candidato à reeleição Omar Aziz, do PSD, com 30%. Para lembrar, Aziz presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, em 2021. A seguir, o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), e o Coronel Menezes, do PL – candidato bolsonarista –, que estão tecnicamente empatados, com 23% e 22%, respectivamente. O Amazonas foi, provavelmente, o estado que mais enfrentou problemas com a Covid-19 e onde Jair Bolsonaro tem demonstrado muita força nos últimos anos.
Já no Pará, maior colégio eleitoral da região, a situação está praticamente definida para o cargo máximo do executivo estadual. O governador e candidato à reeleição, Helder Barbalho, do MDB, trabalhou em seu mandato, a partir de 2019, para se fazer presente nos 144 municípios do estado, além de fortalecer as relações com o Poder Legislativo. O enfrentamento assertivo da pandemia também gerou avaliação positiva pelo eleitorado. O slogan usado é “Helder novamente”. De acordo com a pesquisa IPEC, divulgada em 3 de setembro, Helder aparecia com 65% das intenções de voto, encaminhando sua vitória em primeiro turno, contra 13% do senador e candidato bolsonarista, Zequinha Marinho (PL). Um detalhe é que Zequinha esteve no mesmo palanque de Helder nas eleições de 2018. O Pará tem o histórico de vários governos do PSDB que, desta vez, não tem candidato próprio ao Executivo. O levantamento teve como amostra 800 eleitores, ouvidos entre os dias 30 de agosto e 1° de setembro, em 38 municípios do Pará. Para o Senado, o cenário se mostra imprevisível, com empate técnico quádruplo entre Flexa Ribeiro (PP), Beto Faro (PT), Manoel Pioneiro (PSDB) e Mário Couto (PL) – os três primeiros, com o apoio mais destacado ou discreto do governador Helder, e o último representando a candidatura do espectro ideológico da direita. Flexa Ribeiro e Mário Couto já foram senadores pelo Pará.
Em Rondônia, estado que apresentou grande força bolsonarista em 2018 e com forte presença também do agronegócio, há um cenário de favoritismo do governador e candidato à reeleição, o coronel reformado Marcos Rocha (UB), seguido de perto pelo senador Marcos Rogério (PL). Segundo a pesquisa IPEC, a vantagem de Rocha seria de 11 pontos percentuais (38% a 27%). Os dois, inclusive, disputam o voto bolsonarista e o palanque ao lado do presidente Jair Bolsonaro. Rocha emergiu na onda conservadora do último pleito, enquanto Rogério reforçou sua conexão com o presidente na CPI da pandemia. A disputa para o Senado mostra Mariana Carvalho, do Republicanos, com 26%, Expedito Júnior (PSD) com 19% e Jaqueline Cassol (PP) com 14%, todos alinhados à direita e à centro-direita. A pesquisa ouviu 800 eleitores entre 14 e 16 de setembro, em 27 cidades de Rondônia.
Em Roraima, na pesquisa divulgada em 19 de setembro, as eleições para o governo mostram dois candidatos à frente: o atual governador, Antonio Denarium (PP), que tenta novo mandato e está com 50% das intenções de voto, e a candidata do MDB, Teresa Surita, com 37% da preferência dos eleitores. Ambos buscam melhorar suas respectivas imagens junto ao eleitorado, ao mesmo tempo em que tentam diminuir os índices de rejeição. Denarium tem maior visibilidade por estar no comando estadual e procura se associar ao presidente Bolsonaro. Para o Senado, Hiran (PP), candidato bolsonarista, está à frente, com 36%, enquanto o ex-senador Romero Jucá, político tradicional e uma das principais lideranças do MDB, está com 27% da preferência dos eleitores. O levantamento ouviu 800 pessoas entre os dias 16 e 19 de setembro, em 14 municípios roraimenses.
E em Tocantins, o grande favorito é o atual governador e candidato à reeleição, Wanderlei Barbosa, do Republicanos. Ele desponta com 45% das intenções de voto na pesquisa IPEC, divulgada em 19 de setembro. Os dados foram coletados entre os dias 16 e 18 de setembro, em 35 municípios do estado. Barbosa assumiu o governo em 2021, após o afastamento do então titular do Palácio Araguaia, Mauro Carlesse. Já o ex-prefeito de Araguaína-TO, Ronaldo Dimas, do PL, aparece em segundo lugar no levantamento, com 17%. O cenário se modificou a partir das convenções partidárias – até então, Dimas liderava o pleito, nos levantamentos feitos na pré-campanha. Na mesma pesquisa, mas para o Senado, a professora Dorinha lidera, com 26%, seguida de perto pela senadora e candidata à reeleição, Kátia Abreu, do PP, com 20%. Kátia é ligada à Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil e foi candidata a vice-presidente em 2018, na chapa com Ciro Gomes (PDT).
Assim, na região Norte, há cenários muito particulares nas sete unidades federativas, principalmente na correlação com as candidaturas presidenciais – com a força do bolsonarismo e com o favoritismo destacado do ex-presidente Lula (PT). Nas eleições para os governos estaduais, destaca-se a dianteira de Helder Barbalho, no Pará, que busca um novo mandato e um protagonismo maior na região e até mesmo em nível nacional. Tocantins e Pará foram os únicos dois estados do Norte que deram vitória a Fernando Haddad, do PT, nas eleições presidenciais de 2018. Amapá, Roraima, Acre e, principalmente, Rondônia e Amazonas preferiram Jair Bolsonaro no último pleito. Candidaturas mais à esquerda perderam protagonismo na região.
Para o Senado, políticos tradicionais, como Kátia Abreu, em Tocantins, e Romero Jucá, em Roraima, enfrentam dificuldades. É importante destacar que, assim como no restante do Brasil, as escolhas do eleitorado para a vaga de senador são decididas mais perto do dia do voto.
As urnas trarão, em 2 de outubro, qual movimento político a região fará neste pleito, mesmo que de forma, prioritariamente, heterogênea.
Rodolfo Silva Marques é cientista político, professor-doutor da Universidade da Amazônia (UNAMA) e da Faculdade de Estudos Avançados do Pará (FEAPA). É colunista de política da CBN Amazônia Belém e do portal oliberal.com. E-mail: [email protected].
Breno Rodrigo de Messias Leite é cientista político, professor do Instituto Amazônico de Ensino Superior (IAMES) e do Diplô Manaus. E-mail: [email protected].
por Mariana Dutra
Maria Tereza Ribas Sabará
Mônica Aparecida da Rocha Silva
No Brasil, a difusão do discurso antissistema e antipolítica veio de mãos dadas com o bolsonarismo. No estado do Tocantins, essa narrativa tem ressonância em um contexto em que grande parte da elite política e econômica da região está ligada à atividade agropecuária e/ou são políticos de longa experiência. Outra característica está nas escolhas eleitorais da população que, em geral, não são norteadas por fidelidade partidária ou pela opção por um determinado plano de governo, mas, sim, por uma escolha mais pragmática, sinalada por práticas clientelistas.
Dentre os candidatos a governador de maior expressão de intenção de voto em 2022, não há outsiders, mas políticos de considerável capital político e/ou ligados ao agronegócio. Ainda assim, alguns nomes surgiram como pretendentes de um processo de “desconcentração” do poder no Executivo do Estado, como Paulo Mourão (PT), Irajá de Abreu (PSD), Ronaldo Dimas (PL) e Wanderlei Barbosa (Republicanos). Não que isso faça muito sentido, uma vez que a família de Barbosa faz parte do cenário político do Tocantins desde a época da criação do Estado, ocupando majoritariamente cargos no legislativo estadual e da capital. Já Irajá de Abreu, filho da senadora Kátia Abreu, que disputa sua reeleição, vem de uma família de forte prestígio e capital político local.
De acordo com pesquisas de opinião, a disputa para governador do Tocantins deve se encerrar logo no primeiro turno. Em pesquisa do Ipec, divulgada no dia 19 de setembro de 2022, a disputa aparece centralizada em dois candidatos: Wanderlei Barbosa (Republicanos) – atual governador, desde a renúncia de Mauro Carlesse – com 45% da intenção de voto; e Ronaldo Dimas (PL), com 17% da intenção de voto. Na sequência, aparecem Irajá (PSD) com 8% e Paulo Mourão (PT) com 6%. Carmen Hannud (PCO) com 0%; Coronel Ricardo Macedo (PMB), Dr. Luciano de Castro (DC) e Karol Chaves (PSOL) que estão com 1%.
Já em relação à formação das coligações nestas eleições no Tocantins, fato curioso é uma quebra de padrão em relação à formação de grandes coligações, que por décadas condensava partidos em apenas duas a três coligações. Com exceção do candidato Wanderlei Barbosa, as candidaturas optaram por manter-se isoladas ou seguir as alianças realizadas em federação, mantendo-as enxutas. No Tocantins, a polarização nacional parece não ecoar na disputa eleitoral para governador.
Importante elemento para entender esse contexto reside nos sucessivos rearranjos forçados na dinâmica de poder local nos últimos 15 anos, sem que ao menos um governador pudesse completar o seu mandato, todos afastados por diferentes razões. Essa dinâmica tem, ao mesmo tempo, possibilitado a entrada de novos políticos que outrora não tinham espaço na querela entre duas grandes famílias que disputavam o governo, mas também aumenta os custos das transações políticas, fortalecendo práticas clientelistas, especialmente em relação ao envio de verbas via emendas parlamentares e negociação de contratos temporários no estado e municípios. Cabe reforçar que, grande parte dos empregos provém do poder público municipal e estadual, principalmente nos municípios tocantinenses mais pobres.
Isso faz o funcionalismo público ocupar um lugar central nas eleições do estado. Em geral, candidatos à reeleição possuem vantagens comparativas frente aos adversários, uma vez que não precisam se licenciar de seus cargos e ainda possuem vantagens em relação a iniciativa de orçamento e uso de recursos da máquina pública como um todo. Assim, o candidato Wanderlei Barbosa (Republicanos) tem procurado convencer a população, sobretudo servidores públicos concursados, de que tem experiência e capacidade para assumir a gestão do estado do Tocantins, ainda que tenha uma trajetória política limitada ao legislativo municipal e estadual, assumindo o governo do Estado há apenas 11 meses. Ele tem tentado, também, desvincular-se das eleições nacionais, sendo criticado pelos seus adversários pela falta de clareza em relação ao seu alinhamento federal. Mas, cabe salientar que o candidato Wanderlei Barbosa (Republicanos) deixava claro o seu alinhamento ao Presidente Jair Bolsonaro, quando era vice-governador (cargo que ocupou até meados de março de 2022).
O revés pré-anunciado nas eleições do Tocantins, inclusive, se expressa neste alinhamento com as candidaturas nacionais. O candidato Ronaldo Dimas (PL), que ocupa o segundo lugar na última pesquisa realizada pelo Ipec, é o nome de Bolsonaro na sucessão do Tocantins, tendo articulado importantes palanques para a família Bolsonaro no estado. E, apesar de sua coligação enxuta, é apoiado por grandes nomes da política tocantinense: o senador Eduardo Gomes (PL), que tem grande prestígio entre os prefeitos; e o ex-governador Marcelo Miranda (MDB), candidato a deputado estadual, que apesar de ter sido afastado, ainda guarda grande popularidade no estado. Ronaldo Dimas promete “governar de braços dados com os ministérios evangélicos” e de “incluir evangélicos nos espaços de tomada de decisão”. Esse discurso tem surtido efeito, uma vez que ele tem conseguido ampliar o apoio das igrejas evangélicas.
Estes dois candidatos ao governo tentam captar o eleitor bolsonarista. Já a maior esperança para uma frente progressista, capaz de movimentar importantes palanques e facilitar a corrida presidencial do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), partia da possibilidade de união entre os candidatos Paulo Mourão (PT) e Irajá de Abreu (PSD). Ainda em setembro, havia articulação para esse acordo, com menções durante as convenções e de posicionamentos públicos da senadora Kátia Abreu (Progressistas), mãe de Irajá. Os dois candidatos, juntos, somam apenas 14% das intenções de voto na última pesquisa divulgada. Paulo Mourão (PT) é o candidato responsável pelo principal palanque da candidatura presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Tocantins, mas não tem conseguido grande expressão em nível estadual.
Os partidos de esquerda no Tocantins tem um grande desafio, qual seja, a dependência de trajetória: o fato de que a disputa pelo poder executivo estadual gravita em torno de grandes famílias políticas e de partidos como PMDB e PSDB, e que há pouquíssimo espaço no executivo e legislativo estadual para candidaturas de esquerda. Como já mencionamos anteriormente, na V Série especial da ABPC, publicado também no Estadão (https://politica.estadao.com.br/blogs/gestao-politica-e-sociedade/conjuntura-politica-e-o-enfrentamento-a-pandemia-do-novo-coronavirus-no-tocantins/), as eleições municipais no Tocantins, também, reforçaram a sua trajetória histórica de predominância da liderança local partidária de centro e direita. O DEM, MDB e PSD foram os partidos que saíram mais vitoriosos nas eleições municipais no Tocantins em 2020, concentrando juntos 51% das prefeituras. Um maior alcance, passaria possivelmente pelo estabelecimento de um corpo de alianças mais robusto.
Os gráficos, a seguir, dentre outras realidades, evidencia o comportamento do eleitor tocantinense em relação a eleição do presidente Bolsonaro, em 2018.
Os dados eleitorais indicam também que, no Tocantins, há uma preferência pelas candidaturas nacionais do PT frente aos seus principais desafiantes, o PSDB de 2002 a 2014 e o PSL em 2018. Essa preferência não se manifesta com os candidatos ao legislativo, o que se percebe pela pequena presença de representantes tocantinenses de esquerda nos legislativos estaduais e federais. Soma-se a isso a inexistência de candidato petista com relevante expressão de votos ao governo do estado do Tocantins desde a sua criação. O PT estadual tem oscilado entre coligações por aproximação ideológica e seu relacionamento com o MDB. Mesmo assim, os candidatos à Presidência do Brasil pelo PT conseguiram se sobressair no estado do Tocantins, o que sugere uma articulação estadual muito desconexa do cenário nacional.
Ainda que em constantes conversões e com a “despolarização” da política em nível local, a lógica da disputa no Tocantins parece ter sofrido poucas alterações no pleito de 2022, especialmente ao olhar para seu alcance nacional.
Autoras:
Maria Tereza Ribas Sabará é Mestre em Desenvolvimento Regional (PPGDR), professora da Universidade Estadual do Tocantins (Unitins) e participa do Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas Públicas e Desenvolvimento (GEPPD).
Mônica Aparecida da Rocha Silva é doutora em Ciências Sociais, professora do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR), da Universidade Federal do Tocantins (UFT) e coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas Públicas e Desenvolvimento (GEPPD).