Helena Martins e Eduardo Barbarela*

O primeiro debate entre candidatos à Presidência da República, transmitido pela Band, no domingo, 28, foi também a primeira oportunidade de conferirmos o confronto direto entre Lula e Jair Bolsonaro nas redes. Neste ambiente, tanto no Facebook quanto no Instagram houve maior número de interações em postagens do campo bolsonarista, segundo dados do monitoramento do Observatório das Eleições, que acompanhou, além da movimentação geral, 44 perfis de destaque das redes bolsonarista e lulista nas 12 horas que se seguiram ao confronto.

Tabela 1. Presença dos campos Lulista e Bolsonarista no Facebook, 12 horas após o fim do debate

Total de Interações Total de Postagens Média
Bolsonarismo 2.512.134 193 13.016,24
Lulismo 741.727 177 4.190,548

No Facebook o bolsonarismo dominou, com mais de 2,5 milhões de interações em 193 postagens, gerando uma média de 13 mil interações por publicação, contra uma média de 4,2 mil interações por postagem do campo lulista nas doze horas que sucederam o debate da Band. O campo bolsonarista emplacou as quinze publicações com maior quantidade de interações no período analisado. Dessas 15, nove foram publicações da página de Jair Bolsonaro, que emplacou as quatro primeiras posições. A publicação com maior número de interações foi do presidente agradecendo a audiência dos espectadores do debate da Band. O post teve 177 mil reações, 23 mil comentários e 5 mil compartilhamentos. Uma imagem de bastidor também havia sido a mais “viralizada” na entrevista de Bolsonaro ao Jornal Nacional.

Tabela 2. Presença dos campos Lulista e Bolsonarista no Instagram, 12 horas após o fim  do debate

Total de Interações Total de Postagens Média
Bolsonarismo 4.029.175 45 89.537,22
Lulismo 2.819.755 125 22.558,04

 

No Instagram, o bolsonarismo também dominou quanto ao total de interações e na média de interações, porém o lulismo conseguiu superar no número de publicações. O Bolsonarismo publicou 45 posts com mais de 4 milhões de interações, em uma média de quase 90 mil interações por postagens; o lulista, por sua vez, conseguiu 2,8 milhões de interações em 125 mil publicações, uma média de 22,5 mil interações por post. Nesta rede, apesar de Bolsonaro também liderar, não tivemos o domínio que vimos no Facebook: o campo lulista emplacou a terceira posição com o próprio Lula. O post com maior número de interações foi de agradecimento pela audiência no debate, que também foi o mais compartilhado no Facebook. No Instagram, o post teve mais de 1,3 milhões de likes e quase 60 mil comentários.

No Twitter, a disputa é acirrada entre os dois campos, mas no debate eles dividiram a atenção com Simone Tebet e Ciro Gomes, que tiveram mais menções positivas do que Lula. O tema corrupção foi o assunto mais comentado entre usuários do Twitter. Entre 21h, quando o debate teve início, e 23h50, foram mais de 2,7 milhões de tweets sobre eleições. Interessante notar que o tema foi explorado no debate, especialmente contra o ex-presidente Lula, mas não figura, nestas eleições, entre as principais preocupações da população. Segundo a última pesquisa Quaest, economia (37%), questões sociais (20%) e saúde/pandemia (16%) são, em geral, as preocupações mais frequentes. 

Mesmo nas redes sociais, segundo levantamento deste Observatório, democracia, religião, pandemia e economia estão entre os principais temas abordados nas publicações nesta primeira fase da campanha eleitoral. É possível, portanto, inferir que o debate da Band ampliou a repercussão do tema da corrupção. Um tema que, por enquanto, parece atingir mais negativamente o ex-presidente Lula, apesar das denúncias contra Bolsonaro.

O bolsonarismo, portanto, até aqui ganha no Facebook e no Instagram, mas enfrenta uma disputa mais acirrada neste. No Twitter o jogo é mais duro, com certa projeção da esquerda. As redes sociais são a principal fonte de informação sobre política para os grupos entre 16 e 24 anos e 25 a 34 anos. Entre 35 a 44 anos, as redes dividem centralidade com a TV. Esta lidera com folga apenas na faixa etária acima de 45 anos. O resultado dessa presença do bolsonarismo nas redes também é identificado pela pesquisa. Entre eleitores que pretendem votar em Bolsonaro, 43% usam as redes para se informar, percentual que chega a 25% quando a fonte é a televisão. Os percentuais indicam a importância que as redes possuem para o bolsonarismo – e a necessidade de o lulismo disputá-las.

 

* Eduardo Barbabela é doutor em Ciência Política pelo IESP-UERJ. Pesquisador do IESP-UERJ e subcoordenador do Projeto Manchetômetro.

*Helena Martins é professora de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda da UFC e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFC. Pesquisadora do Telas e do Obscom-Cepos.