por Yuri Holanda Cruz
Yuri Holanda Cruz*
- Embora um debate “full house” seja um evento memorável do ponto de vista da campanha e daqueles que gostam e acompanham de perto a dinâmica eleitoral, não devemos superdimensionar o episódio. A comunicação política é um fenômeno cumulativo: é uma construção que diz respeito à imagem pública que o candidato ou candidata construiu ao longo do tempo. Um mau desempenho ou um ótimo desempenho em um evento específico dificilmente altera a percepção pública sobre a personagem.
- São três grupos de candidatos no debate realizado pelo pool liderado pela Band (podem ser classificados de outras formas, mas proponho esta):
- Os inexpressivos: Felipe e Soraya. São aqueles que não chegam a 1% de intenção de votos nos agregadores de pesquisas (para essa análise, foram consultados Estadão e Poder 360). São inexpressivos no que diz respeito à pontuação em pesquisas. Suas candidaturas são tão legítimas quanto as demais. Do ponto de vista do jogo, em um debate televisionado, sua participação pode ser decisiva, especialmente porque fazem perguntas diretas aos adversários: podem oferecer ganchos, refutações, amainar ou esquentar a temperatura do debate.
- Os intercambiáveis: Ciro e Tebet. Juntos, possuem de 9 até 14% das intenções de voto. Sua faixa de eleitorado pode decidir o pleito. São intercambiáveis porque seu eleitorado pode ter identificação com eles de apelo pessoal (no caso de Tebet) ou de apelo programático (no caso de Ciro), mas também porque construíram suas plataformas com a intenção de ser uma terceira opção palpável entre os candidatos hegemônicos. São players fundamentais no jogo, inclusive porque seu posicionamento será o fiel da balança em um possível segundo turno. Eles exercem um poder de atração sobre as camadas menos aderentes de possíveis eleitores dos candidatos hegemônicos e podem tirar votos deles. É importante lembrar que os intercambiáveis disputam 2022, pensando em 2026. Sua estratégia é de longo prazo.
- Os hegemônicos: Lula e Bolsonaro. Somam cerca de 78% das intenções de voto. Este é um ineditismo de 2022: temos dois candidatos que já colocaram a faixa presidencial no peito. Ambos weberianamente carismáticos. Lula tem uma longa história orgânica com seu partido político de genética popular. Bolsonaro conta com firme base eleitoral, visceralmente vinculada ao seu discurso e resiliente a qualquer crítica.
- Felipe D’Avila: Começou o debate com uma fala sobre ser um trabalhador, aquele que acorda cedo e vai à luta. Não usava gravata (talvez para que discurso e imagem não entrassem em contradição). Ocorre que, entre os presentes, é o candidato com maior patrimônio declarado à Justiça Eleitoral. Privatista, defendeu o agronegócio. Faz o perfil “não sou político, sou gestor”. Esse papel elegeu muitos candidatos em 2018, mas Felipe chegou atrasado. Estamos em 2022.
- Soraya: Repetidamente apontava a caneta para a câmera e para o alto, reivindicando atenção. Boa estratégia para quem precisa se apresentar ao grande público. A senadora é um produto da nova direita. Já foi do NOVO, do PSL e agora está no UNIÃO (partido que ela nem cita na propaganda de televisão). Ela parece mimetizar a campanha de Tebet. Seu discurso é um tanto híbrido. Tenta uma compatibilização desconfortável entre liberalismo e direita; feminismo e conservadorismo. Uma coisa é certa: ela levou ao púlpito boas frases de efeito.
- Tebet: Muitos analistas apontam como a grande vencedora do debate, a que mais se destacou. Foi dura com Bolsonaro quando este revelou sua mal disfarçada misoginia e atacou Vera Magalhães. Tebet tem um grande problema narrativo para resolver (parecido com o de Soraya): apresenta-se como candidata das mulheres, mas votou pela deposição da primeira presidenta eleita da história do país. Manejou bem os tipos-ideais: solidária, firme, crítica, serena.
- Ciro: Terceiro lugar nas pesquisas. É reconhecidamente um bom orador. É, entre os presentes, talvez, o mais programático. Ciro foi o candidato mais propositivo do debate (diferente de Lula e Bolsonaro que jogam com o voto retrospectivo). Tentou mostrar sua face mais programática (e esconder a sua já folclórica faceta explosiva, incontida). É o intercambiável que melhor antagoniza com os hegemônicos. Busca votos dos dois. Nesse sentido, Ciro é considerado por alguns analistas como a maior linha auxiliar do bolsonarismo: seu eleitorado, ao não aderir a Lula, pode garantir o segundo turno para Bolsonaro. Lembrando que, no segundo turno, a chance de ataques ao sistema eleitoral pode ganhar mais corpo e aderência.
- Bolsonaro: O presidente falou para a sua base. O debate não deve lhe render nenhum voto a mais, contudo, foi capaz (mais uma vez) de cristalizar seus adeptos. Começou contido. No entanto, sua serenidade só durou os primeiros minutos de debate. Pacote completo: atacou adversários, jornalistas, mulheres, xingou e acusou. Como candidato hegemônico, sua briga é uma disputa pelo passado, pela construção de uma verdade emocionalmente legitimada. Pisou na bola ao destratar uma jornalista. Isso, inclusive, mudou a pauta de boa parte do restante do debate. A misoginia de Bolsonaro levantou uma bola para quem quisesse cortar. Lula não cortou (e errou feio por isso).
- Lula: O político mais orgânico e experiente. Democrata. Primeiro lugar em todas as pesquisas. Também faz a linha do voto retrospectivo. Busca resgatar o eleitor para uma memória afetiva e esperançosa. Quando questionado sob corrupção (o ponto fraco de sua imagem), não conseguiu reagir de forma tão boa como fez no Jornal Nacional da semana passada. Lula, no debate do dia 28 de agosto, não pareceu tão sagaz como em outras oportunidades. Não foi seu dia. No entanto, sua estratégia contida e não agressiva revela um plano acertado do ponto de vista comunicacional: falar para fora de sua bolha (coisa que Bolsonaro não conseguiu, por exemplo). Isso é fundamental para os hegemônicos.
- Em 2018 o debate televisionado havia perdido o posto de instância decisiva para a internet. Em 2022, os dois campos foram sobrepostos e isso tem repercussões. Ao tempo em que assistíamos ao debate, era possível acessar a internet como instância interpretativa do que os olhos presenciavam na TV. Isso é poderoso. O candidato que jogar bem com isso terá grande vantagem.
- Por fim, é importante anotar o que aconteceu na antessala do debate: Janones e Salles quase indo às vias de fato. Foi preciso um cordão humano de segurança para separar os grupos. Se isso for um preditivo do pleito, a coisa será feia. Quando elites políticas agem assim, seus apoiadores são estimulados a fazer o mesmo. Foi lamentável, especialmente porque o ambiente era de debate. Democracia opta pelas palavras, não pela força bruta.
Yuri Holanda Cruz é mestrando em Sociologia (UFC). Integrante do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (LEPEM – UFC)
por Helena Martins
Helena Martins e Eduardo Barbarela*
O primeiro debate entre candidatos à Presidência da República, transmitido pela Band, no domingo, 28, foi também a primeira oportunidade de conferirmos o confronto direto entre Lula e Jair Bolsonaro nas redes. Neste ambiente, tanto no Facebook quanto no Instagram houve maior número de interações em postagens do campo bolsonarista, segundo dados do monitoramento do Observatório das Eleições, que acompanhou, além da movimentação geral, 44 perfis de destaque das redes bolsonarista e lulista nas 12 horas que se seguiram ao confronto.
Tabela 1. Presença dos campos Lulista e Bolsonarista no Facebook, 12 horas após o fim do debate
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Total de Interações |
Total de Postagens |
Média |
Bolsonarismo |
2.512.134 |
193 |
13.016,24 |
Lulismo |
741.727 |
177 |
4.190,548 |
No Facebook o bolsonarismo dominou, com mais de 2,5 milhões de interações em 193 postagens, gerando uma média de 13 mil interações por publicação, contra uma média de 4,2 mil interações por postagem do campo lulista nas doze horas que sucederam o debate da Band. O campo bolsonarista emplacou as quinze publicações com maior quantidade de interações no período analisado. Dessas 15, nove foram publicações da página de Jair Bolsonaro, que emplacou as quatro primeiras posições. A publicação com maior número de interações foi do presidente agradecendo a audiência dos espectadores do debate da Band. O post teve 177 mil reações, 23 mil comentários e 5 mil compartilhamentos. Uma imagem de bastidor também havia sido a mais “viralizada” na entrevista de Bolsonaro ao Jornal Nacional.
Tabela 2. Presença dos campos Lulista e Bolsonarista no Instagram, 12 horas após o fim do debate
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Total de Interações |
Total de Postagens |
Média |
Bolsonarismo |
4.029.175 |
45 |
89.537,22 |
Lulismo |
2.819.755 |
125 |
22.558,04 |
No Instagram, o bolsonarismo também dominou quanto ao total de interações e na média de interações, porém o lulismo conseguiu superar no número de publicações. O Bolsonarismo publicou 45 posts com mais de 4 milhões de interações, em uma média de quase 90 mil interações por postagens; o lulista, por sua vez, conseguiu 2,8 milhões de interações em 125 mil publicações, uma média de 22,5 mil interações por post. Nesta rede, apesar de Bolsonaro também liderar, não tivemos o domínio que vimos no Facebook: o campo lulista emplacou a terceira posição com o próprio Lula. O post com maior número de interações foi de agradecimento pela audiência no debate, que também foi o mais compartilhado no Facebook. No Instagram, o post teve mais de 1,3 milhões de likes e quase 60 mil comentários.
No Twitter, a disputa é acirrada entre os dois campos, mas no debate eles dividiram a atenção com Simone Tebet e Ciro Gomes, que tiveram mais menções positivas do que Lula. O tema corrupção foi o assunto mais comentado entre usuários do Twitter. Entre 21h, quando o debate teve início, e 23h50, foram mais de 2,7 milhões de tweets sobre eleições. Interessante notar que o tema foi explorado no debate, especialmente contra o ex-presidente Lula, mas não figura, nestas eleições, entre as principais preocupações da população. Segundo a última pesquisa Quaest, economia (37%), questões sociais (20%) e saúde/pandemia (16%) são, em geral, as preocupações mais frequentes.
Mesmo nas redes sociais, segundo levantamento deste Observatório, democracia, religião, pandemia e economia estão entre os principais temas abordados nas publicações nesta primeira fase da campanha eleitoral. É possível, portanto, inferir que o debate da Band ampliou a repercussão do tema da corrupção. Um tema que, por enquanto, parece atingir mais negativamente o ex-presidente Lula, apesar das denúncias contra Bolsonaro.
O bolsonarismo, portanto, até aqui ganha no Facebook e no Instagram, mas enfrenta uma disputa mais acirrada neste. No Twitter o jogo é mais duro, com certa projeção da esquerda. As redes sociais são a principal fonte de informação sobre política para os grupos entre 16 e 24 anos e 25 a 34 anos. Entre 35 a 44 anos, as redes dividem centralidade com a TV. Esta lidera com folga apenas na faixa etária acima de 45 anos. O resultado dessa presença do bolsonarismo nas redes também é identificado pela pesquisa. Entre eleitores que pretendem votar em Bolsonaro, 43% usam as redes para se informar, percentual que chega a 25% quando a fonte é a televisão. Os percentuais indicam a importância que as redes possuem para o bolsonarismo – e a necessidade de o lulismo disputá-las.
* Eduardo Barbabela é doutor em Ciência Política pelo IESP-UERJ. Pesquisador do IESP-UERJ e subcoordenador do Projeto Manchetômetro.
*Helena Martins é professora de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda da UFC e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFC. Pesquisadora do Telas e do Obscom-Cepos.
por Editoria de Desinformação e Redes
Confira o balanço semanal da movimentação dos principais atores políticos na internet (de 21 a 31 de agosto)
Editoria de Desinformação e Redes
Publicado na Carta Capital
Aumento do engajamento no Twitter – Lula e Bolsonaro
A semana de 22/08 a 28/08 trouxe uma grande exposição dos candidatos à mídia tradicional com a série de entrevistas no Jornal Nacional e o debate na Band. O resultado teve repercussão nas redes sociais dos candidatos, especialmente de Luiz Inácio Lula da Silva (primeiro colocado nas pesquisas) e de Jair Bolsonaro (segundo colocado).
O monitoramento do Twitter feito pela Editoria de Redes do Observatório das Eleições mostrou que os dois principais candidatos na disputa eleitoral tiveram aumento no engajamento total na plataforma, ou seja, conquistaram mais seguidores depois da exposição na TV. O aumento foi mais significativo para Lula, o que pode se explicar, em parte, pelo desempenho ruim de Bolsonaro no debate.
O candidato do PT, que tem 44% das intenções de voto segundo a última pesquisa Ipec, registrou um aumento de 2,7% no número de seguidores na plataforma. O presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição e que tem fortíssima atuação na internet, teve um aumentou de 1,3% em sua base de apoio no Twitter.
Considerando o engajamento médio, o ex-presidente também teve um aumento maior, crescendo 56% de interações médias por post contra 42,8% de crescimento do atual presidente.
No entanto, Bolsonaro conseguiu um aumento total de engajamento de mais de 70%, totalizando 3,94 milhões de interações, contra 3,05 milhões do petista.
As principais postagens de Bolsonaro e Lula foram sobre a participação de ambos nas entrevistas do Jornal Nacional. Em relação aos temas que suscitaram mais interação para os candidatos, temos: gênero (discutido por Lula quando abordou a proposta de renegociação de dívidas para as mulheres) e crítica à “carta pela democracia” feita por Bolsonaro.
Os temas mais abordados nas publicações
Em levantamento feito 10 dias após o começo oficial da campanha eleitoral, observou-se que os temas democracia, religião, pandemia e economia estão entre os principais abordados nas publicações de apoiadores de Lula e de Jair Bolsonaro. O monitoramento do Observatório vem categorizando, de forma automatizada, todas as publicações do Twitter e Youtube dos principais apoiadores de ambas as chapas.
Levando-se em conta o Twitter, os temas principais abordados pelo campo lulista são: democracia (36%), pandemia (11,4%) e religião (10,8%). No campo bolsonarista, os principais são: democracia (29,5%), religião (19.7%) e economia (12%). O tema democracia está presente em ambos os campos, mas com construções narrativas bastante distintas. Alguns recortes mais específicos mostram, abaixo, essas narrativas distintas.
O tema “democracia” na semana no Twitter
O monitoramento feito pelo Observatório das Eleições, no período, sobre o tema geral democracia envolve alguns subtemas, como golpe, Carta aos Brasileiros, ditadura, regime militar, Forças Armadas. Nas semanas após a ação do ministro Alexandre de Moraes contra os empresários bolsonaristas que falavam em golpe contra o ex-presidente Lula em rede social, os tuítes com mais engajamento trouxeram os termos golpe, democracia, ditadura e regime militar.
O campo bolsonarista reagiu fortemente à operação de busca e apreensão feita pela Polícia Federal e autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes em relação aos empresários investigados pelas manifestações golpistas em rede social. Os apoiadores do presidente Bolsonaro se manifestaram atacando a credibilidade das instituições. O tuíte com mais engajamento foi, novamente, do empresário Luciano Hang, também ele investigado pela PF.
@LucianoHangBr – 36.808 de engajamento – (23/08) “Compartilhe esse vídeo. Tive meu Instagram retirado do ar, por conta de uma matéria mentirosa, em que o próprio autor, o jornalista Guilherme Amado, admite que nunca falei sobre golpe. Juntos somos milhões. Não existe democracia sem liberdade!”
Em relação ao tema democracia, há uma ressignificação constante do termo pelo campo bolsonarista. O presidente Jair Bolsonaro menosprezou reiteradamente a Carta pela Democracia e associou do PT a ditaduras.
@LucianoHangBr – 92.570 de engajamentos – (23/08) “CENSURA! Acabaram de derrubar meu Instagram. Onde está a democracia e a liberdade de pensamento e de expressão? Tenho certeza que este era o objetivo de toda essa narrativa: tentar me calar. Vivemos momentos sombrios, mas vamos vencer.”
@jairbolsonaro – 88.557 de engajamentos – (25/08)
“Respeitar a democracia é muito diferente de assinar uma “cartinha”. Honrar a Constituição, em especial direitos e garantias fundamentais, é o que diferencia DEMOCRATAS de DEMAGOGOS.”
por Helena Martins
Helena Martins e José Maria Monteiro
No WhastApp, bolsonarismo enaltece militares, ataca Globo e mobiliza discurso sobre corrupção
Críticas ao Grupo Globo e mensagens associando práticas de corrupção ao ex-presidente Lula foram os conteúdos que mais circularam em grupos de WhatsApp bolsonaristas públicos entre os dias 24 e 25 de agosto, no contexto da entrevista concedida pelo ex-presidente ao Jornal Nacional. Mensagens religiosas e a tentativa de opor Lula ao agronegócio também povoam a conversação nesses espaços. Ao todo, 17.397 mensagens foram analisadas.
A mensagem mais recorrente enalteceu o Dia do Soldado, comemorado em 25 de agosto. Ela apareceu em 11 grupos. Depois, duas postagens de candidatos militares no Amazonas tiveram destaque, uma em 11 grupos e outra em nove. A repercussão da entrevista de Lula ao JN começa a aparecer a partir da quarta posição no ranking das mais compartilhadas, tendo sido registrada em nove grupos diferentes. A primeira delas convoca para não assistir a entrevista. Interessante notar que a mensagem sugere que as pessoas acompanhem a sabatina pelo YouTube após o início dela.
A segunda mais frequente sobre a sabatina sugere que a entrevista foi “horário eleitoral gratuito”, indicando que os jornalistas teriam favorecido o petista. O texto chama Lula de “ex-presidiário” e ativa a memória de denúncias de corrupção. Corrupção também é o tema de outra mensagem com bastante alcance que critica os apresentadores do telejornal, que “não descansavam em sua missão de proteger Lula” e que defende a Lava Jato. As demais mensagens seguem o mesmo padrão. Cada mensagem foi vista em, pelo menos, cinco grupos.
Os termos mais recorrentes na amostra analisada pelo Farol são mostrados abaixo:
Muitas mensagens (40,91%) usam texto e outras mídias de forma combinada. O link mais compartilhado foi o convite para um grupo no Telegram. O segundo, o link de uma petição pública pelo impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moares. O terceiro link mais compartilhado aponta para o podcast Minuto com Deus.
1.297 contas enviaram mensagens no período, uma média de 13,4 mensagens para cada uma. O usuário com maior número de mensagens, um candidato a deputado estadual, publicou 31 vezes. Usuários de São Paulo, Bahia, Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina e Espírito Santo são os mais presentes na amostra analisada.
O monitoramento de mensagens no WhatsApp, ainda que a partir de um número limitado de grupos, permite visualizarmos o teor da conversação nesses espaços. Comparando os dados do Farol com o do Radar Aos Fatos, plataforma que monitora 180 grupos (não apenas bolsonaristas), notamos o mesmo teor. No Radar, o texto mais compartilhado trata da Globo e de denúncias de corrupção. O conteúdo, que também apareceu na amostra do Farol, seria um e-mail enviado à emissora com críticas sobre o teor “tendencioso” da entrevista.
Em geral, o Radar classificou a qualidade média das mensagens monitoradas em 3,3, em uma escala de 0 a 10. Os principais conteúdos contendo desinformação estavam relacionados a invasões de terra pelo MST, a um suposto processo envolvendo o pai da apresentadora Renata Vasconcelos e a participação de Lula em um ritual umbandista onde teria sido consagrado filho de Xangô.
O que vemos até aqui são mensagens associandopráticas de corrupção ao PT e a Lula, bem como tentativas de descredibilizar a imprensa. Um tipo de conteúdo diferente do que aparece em outras redes, nas quais, como temos mostrado no Observatório das Eleições, predominam imagens de humor e que demonstram apoio aos candidatos. A diferença reforça a necessidade de uma análise das diferentes redes para a compreensão das estratégias desenvolvidas neste campo de batalha.
Helena Martins é professora da UFC. Doutora em Comunicação pela UnB, com sanduíche no Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa (ISEG). É editora da Revista EPTIC. Coordenadora do Telas – Laboratório de Tecnologia e Políticas da Comunicação e integrante do Obscom / Cepos.
José Maria Monteiro é professor de Computação da Universidade Federal do Ceará, coordenador do Farol Digital
por Maria Alice Silveira Ferreira
Francisco W. Kerche*
Maria Alice S. Ferreira **
Pouco mais de 10 dias após o início da campanha eleitoral muitos temas já têm sido alvo de debates e discussões nas mídias sociais entre os dois principais candidatos à presidência da República: Luis Inácio Lula da Silva e Jair Messias Bolsonaro. Um levantamento feito pelo Observatório das Eleições mostra que democracia, religião, pandemia e economia estão entre os principais temas abordados nas publicações de apoiadores de Lula e Bolsonaro durante a primeira semana de campanha eleitoral. A análise mostra também que existem diferenças nas temáticas mais abordadas tanto por cada grupo de apoiadores quanto pela plataforma analisada.
A partir de palavras-chave relacionadas a uma série de temas específicos, o monitoramento do Observatório vem categorizando, de forma automatizada, todas as publicações do Twitter e Youtube dos principais apoiadores de ambas as chapas. Os dados analisados até agora apresentam duas principais diferenças: uma relacionada a quais foram os principais temas mobilizados pelos apoiadores dos candidatos, e a outra relacionada a como as temáticas do mesmo campo mudam de acordo com a plataforma analisada.
No Twitter, por exemplo, os temas principais abordados pelo campo de apoio ao ex-presidente Lula são: democracia (36%), pandemia (11.4%) e religião (10.8%) (fig. 01) Democracia também aparece em primeiro lugar na lista de temas do campo bolsonarista (29.5%), mas em seguida vêm religião (19.7%) e economia (12%). Apesar do tema democracia se destacar fortemente em ambos campos, as narrativas são muito distintas. Entre os apoiadores de Lula estão muitas vezes relacionadas à importância da luta pela defesa da democracia e repúdio à ditadura militar. A “Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito!”, apresentada na Universidade de São Paulo no último dia 11, por exemplo, contou com grande presença de apoiadores do ex-presidente Lula. Inversamente, o campo de apoiadores de Bolsonaro apresenta sua própria narrativa sobre o processo democrático, afirmando que defendem sim o resultado das eleições, “desde que auditável e transparente”.
A pandemia destaca-se como um tema também bastante explorado nas narrativas entre os apoiadores de Lula, denunciando a desastrosa gestão de Bolsonaro no combate ao coronavírus. O grupo também apresenta as declarações do próprio presidente sobre os milhares de mortos pela doença e o descaso para compra de vacinas que geraram indignação para um público que não apoia o candidato.
Por sua vez, a relevância do tema da religião para ambos os grupos é consonante com as recentes empreitadas dos dois candidatos, que buscam seu apoio entre grupos religiosos. Enquanto Bolsonaro tem significativa vantagem entre os evangélicos, Lula tem um bom apoio entre os católicos. Porém, atingindo um ou outro grupo, lulistas e bolsonaristas mobilizam essas narrativas para tentar ampliar seu escopo de atuação e acenar para essas bases.
No YouTube, o cenário muda. Aqui, as principais diferenças se dão principalmente no campo bolsonarista, que passa a discutir muito mais os temas referentes ao sistema eleitoral (22.5%) e ao poder judiciário (17.5%). Percebe-se que grande parte do conteúdo publicado pelos apoiadores de Bolsonaro está relacionado à segurança das urnas e à lisura do processo eleitoral. Ao mesmo tempo, é possível identificar nessa plataforma diversos conteúdos que têm como alvo os ministros do STF. A Democracia (17.6%) ainda se mantém como tema bastante discutido, e é também possível notar um aumento em temas relacionados à educação (10.9%) e ao 07 de Setembro (6.5%), já que os apoiadores de Bolsonaro estão se organizando para manifestações nesta data.
No campo lulista no Youtube, os principais temas estão relacionados a democracia (36%), economia (13.9%) e sistema eleitoral (8.7%) As narrativas do campo lulista sobre economia se concentram, muitas vezes, na indignação sobre o alto custo de vida dos brasileiros, em especial os aumentos nos preços de combustíveis e alimentação. O sistema eleitoral brasileiro também entra como uma temática importante no que diz respeito às urnas e defesa das eleições. Muito desse debate se contrapõe às narrativas bolsonaristas sobre a segurança das urnas eletrônicas e mesmo as declarações que o próprio presidente Jair Bolsonaro já deu questionando a lisura do processo eleitoral. O conteúdo sobre pandemia (5.8%) aparece menos no Youtube do que no Twitter.
Esse levantamento mostra que a agenda das campanhas varia de forma importante de acordo com a plataforma. Isso pode ser explicado pelas diferenças da audiência de cada uma delas e também do tipo de comunicação e especificidades (affordances) que cada plataforma permite. Enquanto o Twitter atinge um grupo de usuários mais amplo e por isso segue muitas das pautas de campanha dos candidatos, o YouTube atinge usuários que podem ser já um público cativo de determinado youtuber. Nesse sentido, as diferenças podem ser vistas como tópicos mais orientados para um público mais amplo naquela e outros mais orientado para seus eleitores nesta.
O Observatório das Eleições monitora atualmente 207 contas no twitter em apoio ao Lula e 42 canais no YouTube. Já no campo bolsonarista, são 50 contas no Twitter e 113 canais no YouTube. A diferença de tamanho das duas amostras reflete a composição de atores de ambos os campos. Para montar esse grupo de atores relevantes para cada campo político, os pesquisadores do Observatório mapearam as conexões entre atores-chave das duas campanhas. No caso do YouTube, a maior presença de canais de apoio ao atual presidente eram evidentes, porém, no Twitter, Lula tinha um apoio mais vocalizado.
Curiosamente, mesmo com essa diferença os valores de engajamento se assemelham em ambas as redes sociais (fig 02). Mesmo com um quarto dos apoiadores no Twitter, o grupo Bolsonarista já somou 12,2M de interações no twitter, contra 17,5M no grupo lulista. Ao observarmos o engajamento em torno a cada tema, o grupo supera o lulismo nos temas de Religião (518k de interações), Pandemia (221k), Economia (252k), Poder Judiciário (174k) e sobre o 7 de Setembro (29k). Já no YouTube, Lula supera Bolsonaro apenas quando os temas são Pandemia (313k curtidas), economia (337k) e democracia (998k).
Engajamento por grupo
A disputa dos candidatos à presidência ainda está em seus primeiros dias e já passou por diversos temas. O observatório acompanha diariamente as publicações em ambas as plataformas dos apoiadores dos candidatos à presidência. Esse monitoramento é importante porque permite visualizar como esses campos políticos têm discutido e mobilizado temas que são de grande interesse para a vida pública, ainda que com diferentes enfoques. Além disso, o monitoramento contínuo irá permitir observar como a base dos diferentes candidatos vão se mobilizar e apoiar uma ou outra pauta durante o tempo.
Francisco W. Kerche é mestrando em sociologia na UFRJ e consultor em análise de dados no Greenpeace Brasil.
Maria Alice S. Ferreira é pesquisadora do INCT IDDC. Doutora e mestra em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais.
por Editoria de Desinformação e Redes
Confira o balanço semanal da movimentação dos principais atores políticos na internet (de 15 a 21 de agosto)
Editoria de Desinformação e Redes
Publicado na Carta Capital
Instagram
Interações:
Bolsonarismo: 12 milhões
Lulismo: 11 milhões
Bolsonaro: 7,3 milhões
Lula: 4 milhões
Visualizações:
Bolsonarismo: 3 milhões
Lulismo: 2,9 milhões
Bolsonaro: 1 milhão
Lula: 1,5 milhão
Seguidores e crescimento semanal:
Bolsonarismo: 47 milhões (+185 mil)
Lulismo: 26 milhões (+252 mil)
Bolsonaro: 20 milhões (+102 mil)
Lula: 5,9 milhões (+ 190 mil)
Facebook
Interações:
Bolsonarismo: 10 milhões
Lulismo: 6,3 milhões
Bolsonaro: 1 milhão
Lula: 2,5 milhões
Visualizações:
Bolsonarismo: 32 milhões
Lulismo: 17 milhões
Bolsonaro: 2,6 milhões
Lula: 7,6 milhões
Seguidores e crescimento semanal:
Bolsonarismo: 62,5 milhões (+47 mil)
Lulismo: 36 milhões (+22,5 mil)
Bolsonaro: 14,6 milhões (+10 mil)
Lula: 5 milhões (+ 23 mil)
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A movimentação de Lula e Bolsonaro nas redes:
Na primeira semana de campanha, o ex-presidente Lula surpreendeu e dominou as redes contra o atual presidente na comparação de perfis individuais. Lula conseguiu números de interações, visualizações e crescimento do número de seguidores superiores aos de Bolsonaro no Facebook, além de vencer no Instagram em visualizações e aumento no número de seguidores. Em sete dias, o perfil de Lula no Facebook alcançou números superiores aos que havia conseguido nos quinze dias anteriores nos quatro índices, segundo o Manchetômetro. No Instagram, os resultados também foram melhores do que os apresentados na quinzena anterior, exceto pelo total de interações.
Apesar dos ótimos resultados de Lula, quando comparamos os campos, o campo bolsonarista ainda se apresenta maior e supera o campo lulista em 7 dos 8 índices analisados, perdendo apenas no aumento no número de seguidores no Instagram. Portanto, nesta primeira semana de campanha, Lula demonstrou crescimento e perfis nas redes sociais capazes de enfrentar, de frente, as redes de Bolsonaro, uma figura já estabelecida na internet. No entanto, quando avaliamos os campos que envolvem e acompanham os candidatos, o Bolsonarismo ainda se demonstra muito mais bem articulado nas redes do que o Lulismo.
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A movimentação de Bolsonaro após a entrevista ao JN
(Monitoramento específico realizado no período de 12 horas após a entrevista, no dia 23)
Doze horas após a entrevista de Jair Bolsonaro ao Jornal Nacional, o campo bolsonarista fez 64 postagens no Facebook, com quase três milhões de interações (um total de 2.423.686). Bolsonaro, sozinho, teve quase dois milhões de interações em sete posts (1.573.260) – a média de interações dele, sozinho, é maior do que a de todo o campo lulista no monitoramento feito. O conteúdo com mais visualização foi um vídeo postado por Bolsonaro, de seu encontro com apoiadores no Projac da Rede Globo após a entrevista. Nesse vídeo, o presidente, já dentro do carro, convida os apoiadores para o 7 de setembro no Rio de Janeiro. Somente essa postagem teve mais de 1,18 milhão de visualizações nas 12 horas após a entrevista no JN.
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Outros atores e as interfaces
Na primeira quinzena de agosto, as publicações de André Janones tiveram 11 milhões de visualizações. Em comparação, o ex-presidente Lula teve 5 milhões. Janones tem mais expressão que Lula nas redes, portanto, sua incorporação à campanha é muito relevante em termos da capacidade de alcance de internautas.
No entanto, nessa quinzena observada, Janones e Lula, juntos, não alcançam o montante de visualizações da deputada Carla Zambelli, apoiadora de Bolsonaro, nem do presidente Jair Bolsonaro – cada um conseguiu mais de 20 milhões de visualizações.
Em interações, a dupla Janones + Lula somou 5,6 milhões e se aproxima de Carla Zambelli (com 6,3 milhões) e de Jair Bolsonaro (com 7,8 mi) na primeira quinzena de agosto.
A dobradinha parece funcionar bem, segundo os dados da primeira semana de campanha. Nesse período, Lula já superou a marca de 7,6 milhões de visualizações e o próprio perfil de Janones, com 4,3 milhões. Por sua vez, a dupla Jair Bolsonaro e Carla Zambelli somou pouco mais de 4 milhões de visualizações. Já nas interações, Lula e Janones somaram 3,6 milhões de interações, enquanto Zambelli e Bolsonaro alcançaram 1,2 milhão de interações. Assim, os dados confirmam que a aquisição de André Janones terá um importante papel para a campanha de Lula nas redes.